Ele era popular ou, ao menos, era isso que todos diziam sempre que viam, mas ele não ligava, e continuava quieto. Não era grosso ou arrogante, como também dizia, e aqueles que insistiam um pouco percebiam o quanto era fácil conviver, sorria fácil, pessoa agradável.
Mas ele tinha aquele segredo, sempre observava seu melhor amigo, quieto, em todos os momentos e, sem que percebesse, permitiu que seu eixo gravitacional girasse apenas ao redor dele. Por isso os outros pensavam que ele era distante, mas, na verdade, ele só estava perdido, encantado em seu amor, ainda sem esse nome, apenas um sentimento puro, cristalino, desprovido de malícia.
E nisso consistia sua vida. Ainda que todas as meninas insistissem em falar com ele, era para seu amigo que seu olhar sempre se voltava, era para ele que seus olhos brilhavam secretamente.
Pensei nessa pureza de sentimentos. Na beleza singular transmitida em cada olhar, em cada mão que tremia de medo. Não havia malícia ali, não a malícia a que estou habituado, aquela que se manifesta no desejo torpe, ao contrário, o sentimento real traduz-se em um desejo belo, também ele mesmo, pois se baseia, na verdade, do amor. E apenas isso. E essa pureza parece não existir mais, ou ter quase desaparecido completamente dos nossos corações.
Onde foi parar a pureza do amor nesse mundo? Será que ainda há olhos cristalinos a contemplar o amado?
"Ó cristalina fonte, se nesses Teus semblantes prateados formasses de repente os olhos desejados que trago nas entranhas esboçados!" (Santa Catarina de Sena)
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