Isso é um sonho? Algum tipo de pesadelo? Ou o efeito colateral bizarro de uma anestesia mal aplicada?
Sinto como se estivesse nu numa estrada deserta, faz frio, o vento corta minha carne, e eu arrasto os pés sangrentos, mas não sei onde vou chegar. É algo tanto quanto psicodélico, os pensamentos vêm e vão, imagens, algo meio etéreo. É quase como se eu fosse dali levado a outro lugar, sentisse toques em minha pele e tocasse outras peles, cheiros de perfumes se misturando, sorrisos, e então voltasse a essa estrada vazia.
E então fosse de novo, como que arrebatado, levado ao mar, sentindo a brisa fresca no rosto e nos cabelos, ouvindo as ondas quebrando nas grandes pedras, calma absoluta. E então de volta a estrada.
Me vejo entrando numa enorme igreja, repleta de afrescos no teto e grandes e belíssimas imagens, reconheço alguns dos santos ali, e percebo que muitos usam vestes como as minhas, mas não consigo ver o rosto de ninguém. De volta a estrada.
Não sei como vim parar aqui, não sei o que vim fazer aqui, não sei por onde andei até aqui e não sei por onde voltar, mas voltar pra onde? Tenho um lugar para onde voltar? Na juventude minha mãe sempre dizia que eu devia voltar logo pra casa. Aquele mestre tarado disse que lar é um lugar onde tem alguém esperando por nós. A música diz algo parecido, uma cadeira não é uma casa e uma casa não é um lar se não tem ninguém para amar lá. Ou algo assim.
Parece haver algo também ao meu redor. Eu sinto seu olhar a espreita, sinto seus tentáculos gelados tentando penetrar a minha mente. Mas eu olho e não consigo encontrar nada, giro em meus calcanhares, sinto as pequenas pedras se misturarem as minhas feridas, meus cabelos nos olhos, mas não vejo nada.
E então sou levado de novo.
Diante do espelho quebrado,
quebrado,
destroços,
desaparecendo
lentamente
.
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