segunda-feira, 26 de maio de 2025

O Voo da Andorinha

A inspiração sempre vem por lampejos, e então se desvanece, como a fumaça de um cigarro ou de uma xícara fumegante de café. Usei essa imagem alguns dias atrás por esse motivo: a inspiração que me veio, interrompida rapidamente pelos que me rodeiam, sem essa pretensão, claro, me fazem recorrer sempre ao mesmo lugar-comum. 

É o que um meio banal faz com um homem de letras, tenta a todo custo reduzi-lo a um dos seus. Por não o compreender, tentam destruí-lo. "Para que tanto livro, se não é nem bacharel?", o questionamento da vizinha de Policarpo Quaresma na obra de Lima Barreto mostra um pouco disso, e complemento com a observação aguda de Goethe, de que "o talento molda-se na solidão, e o caráter na agitação do mundo. Sendo então, como bem ensina S. Tomás, como toda regra geral encontra na sua aplicação particular, o desafio moral correspondente a virtude que se deve buscar, e receber, já que toda virtude vem de Deus.

Em suma, é preciso equilibrar a agitação do mundo, que distrai, mas que molda o caráter pelo contato, como homens santos e pecadores, assim como a solidão, capaz de reter a inspiração ao menos por tempo suficiente para que minhas mãos registrem em palavras aquilo que passou rapidamente por meu coração, como uma andorinha voa rapidamente diante dos olhos, deixando, no entanto, a impressão daquele veloz, aquela linha rápida.

Fugazes também os momentos que perdemos, não dizendo ou não aceitando o que sentimos. Guardamos até quando geralmente se torna tarde demais. E assim, ignorando o que se encontra diante dos olhos, apenas por ser diferente da expectativa, prefere sofrer na indecisão. Esperando a amada perfeita, encontra no amigo a companhia ideal e o amor verdadeiro, mas não corresponde a imagem inicial, e então ambos sofrem. A andorinha voou, restou apenas breve linha de sua passagem, e nada mais no imenso céu nublado, cinza e triste por não aceitarem os sinais tão claros de seus desejos sendo atendidos. Perceberam, ao menos, e esconderam essa verdade num lugar tão profundo que ninguém é capaz de encontrar, que são, um para o outro, aquilo que sempre buscaram?

"Dizes que brevemente serás a metade de minha alma. A metade? Brevemente? Não: já agora és, não a metade, mas toda. Dou-te a minha alma inteira, deixe-me apenas uma pequena parte para que eu possa existir por algum tempo e adorar-te." (Graciliano Ramos)

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