quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Nosso limite

"Mas, que luz é essa que ali aparece naquela janela? A janela é o Oriente, e Julieta o sol. Sobe, belo astro, sobe e mata de inveja a pálida lua." (Shakespeare)

Qual é o nosso limite? Queria que estivesse aqui comigo, nessa manhã fresca e preguiçosa, com o canto dos pássaros e o vento entrando pela janela e agitando a cortina que, como um véu, vai revelando a fraca luz do dia. Eu rolaria pro lado e te abraçaria, e ficaria vendo você dormir, ou talvez te acordasse com o cheiro do café, mas com certeza iria querer ficar abraçado com você para sempre, fazendo desse instante, dessa manhã, um infinito particular. 

Mas, quando aceno a minha cabeça e me livro desse breve devaneio, eu olho para o espaço vazio da cama ao meu lado e vejo apenas isso, vazio. 

De todo modo eu ainda preciso lidar com esses ímpetos, do que eu devo ou não dizer. Já acabei por me meter em várias situações constrangedoras porque nem todos estão preparados para ouvir. Quer dizer que, por ter achado um cara bonito eu quero automaticamente dar pra ele? Na maior parte das vezes sim porque eu sou biscate, mas isso não vem ao caso, muitas vezes o elogio é simplesmente porque eu gosto de elogiar mesmo, principalmente se vejo o esforço e a mudança da pessoa. Mas é claro que eu não seria bem compreendido. Tudo bem, vida que segue. Continuo tendo a oferecer nada mais do que uma simpatia simples e tosca e, se alguém não consegue aceitar isso, não é um problema meu. 

Enfim, mudando de assunto, percebi com mais força nesse fim de semana que, já há algum tempo, os sintomas dos meus episódios têm se tornado cada vez mais fortes, o que indica que eu preciso começar a me cuidar de novo. Devo buscar um psiquiatra nos próximos dias, alegando outro problema porque não preciso da preocupação exagerada da minha mãe que já enfrenta suas dificuldades. Mas eu preciso voltar a me cuidar... Nas últimas semanas todo o tempo que fiquei em casa foi dormindo, dopado, e nos breves momentos despertos eu não tinha disposição para nada. Até hoje que pretendia cuidar de algumas coisas da minha aparência, barba, depilação, unhas mas acabei não conseguindo fazer tudo como pretendia e, como já disse em outras ocasiões, o descaso com o autocuidado é um sinal claro de que a depressão vem saindo do controle e penso que deixei ela chegar num estágio mais avançado do que deveria para buscar ajuda...

Bom, mas antes disso, eu vou dormir de novo... 

Tentei ler um pouco, sem sucesso. Felizmente consigo ler bastante nos outros dias. Tudo que sinto é um grande tédio existencial. Mas o que eu queria na verdade? Nem eu sei ao certo. Acho que queria morar sozinho, mas com o meu salário atual e descontrole financeiro eu não conseguiria nada. Queria reorganizar as coisas, como meu quarto ou a sala ou até meu escritório mas, olhando ao redor eu vejo que só eu me incomodo com isso e, não tendo forças para cuidar de nada disso sozinho eu acabo levando, e levando, e levando, e a cada dia me desanimando mais e mais. E de nada adianta ficar pensando nisso se eu não consigo fazer sozinho e se ninguém vai se mexer para fazer também, realmente é melhor eu simplesmente ir dormir.

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