terça-feira, 5 de setembro de 2023

Símbolos de Intimidade


Já disse aqui, em outra oportunidade, que eu gosto de ver alguns trabalhos de fotografia que mostram cenas do cotidiano de casais, seja em momentos de intimidade explícita de forma artística ou de momentos simples, como um passeio no parque. Um amigo me perguntou o motivo de achar essas imagens bonitas, ao que refleti que a intimidade não se limita aos aspectos imediatos das demonstrações físicas, mas que podem, e geralmente são, tão profundos que essas demonstrações são apenas uma pequena parte transbordada desta. Mas, sendo tão difícil de se entender e enxergá-la com realidade podemos acabar então confundindo, desde os movimentos internos até as demonstrações externas que lhe são significadas. Dado isso é compreensível ao menos que as demonstrações apontem, embora não signifiquem totalmente, a intimidade secreta desejada e, por isso, admirada. 

Eu amo o longe e a miragem, tomando de novo as palavras do poeta no Cântico Negro, enquanto os outros admiram o que é fácil. Muito embora para eles essas demonstrações sejam fáceis eu as admiro justamente porque me são distantes. 

Aquelas cenas de ternura também me são profundamente caras, como as que recentemente assisti de novo em Wish You, um dos primeiros BLs coreanos a conseguirem fazer sucesso aqui no Brasil, com aquela simplicidade que Kang In-soo e Lee Sang conseguiram passar, se entendendo nos arranjos de uma música que dizia exatamente o que o coração de ambos queria dizer. Romantismos e idealizações à parte, também me recordo daquelas cenas de carinho entre os protagonistas de Tokyo In April Is... sobre as quais eu já falei algumas vezes, em que ambos encontraram, na privacidade de um pequeno apartamento com uma leve luz entrando pelas cortinas brancas, o carinho de um abraço que lhes permitia serem eles mesmos, sem interferências externas e nem mesmos dos seus medos e traumas. E me encanto até mesmo com essas demonstrações dos extremos que levam ao fundo do poço, e que também me renderam algumas boas reflexões, que foi a descoberta da intimidade em More Than Words, sendo a fotografia japonesa especialmente dedicada em mostrar esses momentos com sensibilidade ímpar. 

Mas então, deixando de lado essa digressão... Como explicar que eu preciso de silêncio, quando todos precisam que eu os ouça? Como dizer que preciso fechar os olhos, por breves momentos, e não pensar em muita coisa, quando a todo momento me aparecem novas questões. Como explicar que eu não consigo entender nada do que me dizem se eu não, antes, entender a mim mesmo? Como explicar que eu preciso não apenas de um abraço mas do seu abraço? Como dizer que não existem outros na minha mente, que na escuridão a minh'alma clama apenas por você? 

É idiota dizer isso, mas eu não tenho paz, não consigo respirar, não tenho tempo para prestar atenção em nada porque logo me aparece alguém em prantos ou desespero. Mas então, se eu tento sempre ajudar, facilitar, fazer o meu melhor, por qual razão é que sempre me aparecem mais e mais dificuldades... Se é mesmo verdade que atraímos o que fazemos, de nada tem adiantado ajudar e ser prestativo se, ao fim de tudo, eu só encontro o meu quarto vazio e mais mensagens com problemas para resolver. Se é mesmo verdade que o universo se importa em devolver o que damos a ele, pelo visto tudo que eu faço deve ser da mais grosseira brutalidade, já que meu único pagamento é a solitária noite após longo dia. 

Pois como sereis vós a entenderem que me é este amor que tanto careço se, nessa mesma noite escura eu só encontro a mim mesmo. Poderia me amar não é? Muitos o dizem, que esse amor próprio está na base e na premissa do amor ao próximo, o que bem pode ser verdade, mas então eu torno aquela minha pergunta fundamental: por que estamos todos, sempre e irremediavelmente, sozinhos? E se essa é nossa condição normal, por que ainda assim dói tanto?

Como explicar então que eu preciso do silêncio depois de longo tempo em meio a agitação do mundo justamente porque não encontro no mundo um peito florido para repousar em meio as açucenas? Os símbolos de intimidade me são uma constante lembrança da mais absoluta solidão. 

Agora
nesta hora inocente
eu e a que fui nos sentamos
no umbral do meu olhar

Alejandra Pizarnik

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