sexta-feira, 10 de abril de 2020

Do Tríduo

Hoje começa mais um Tríduo Pascal, o centro da vida litúrgica da Igreja, e também da minha. São dias diferentes, sempre o são. Já estava acostumado a, todos os anos, estar preocupado com os últimos preparativos da Via-Sacra e com o andamento das celebrações... Mas esse ano não. Tudo está mais silencioso. As celebrações foram simplificadas ao máximo pelo decreto episcopal que visa diminuir as aglomerações na igreja para evitar a propagação do coronavírus que já fez milhões de infectados no mundo. É uma penitência que nos foi imposta. 

Mas aquela atmosfera continua. Aquela tensão no ar, do Cristo perseguido e preso, que logo mais será julgado e morto por nossos pecados numa cruz após sofrer pavorosos suplícios nas mãos dos soldados mais cruéis. 

Ainda sinto a pressão, o peso, por trás de celebrações tão significativas que, mais do que nos recordar o acontecido, nos coloca de fato no mesmo cenário, tornando presente o sofrimento de Cristo, bem como sua ressurreição, nossa salvação. 

Hoje é o dia da Ceia Pascal, da instituição do sacerdócio e da Eucaristia, dia em que Deus nos deu um novo mandamento: que nos amemos uns aos outros como ele nos amou. Nos deu também a ordem de celebrar a Eucaristia em sua memória, e é isso que estamos fazendo. 

Na sexta-feira experimentamos o silêncio que nos deixa ofegantes. Um silêncio esmagador que começa já na noite do dia anterior, com a desnudação do altar. É um dia que costumeiramente chove pesadamente, é o dia mais difícil do ano. Sentimos, ainda que de maneira imperfeita dada nossa pecaminosa percepção, um pouco daquela apreensão, daquela angústia e dor que Nossa Senhora sentiu ao ver seu filho ser flagelado daquela maneira. O silêncio após a celebração da Paixão é o mais angustiante. O mesmo para a manhã do sábado, que começa como que sem nenhuma luz, ficando opaco durante todo o dia. 

Sempre anseio por esses dias, assim como os batizados renascem nas águas para uma vida nova após as celebrações da Semana Santa a nossa fé ganha novo vigor, nova luz, assim como o fogo novo do Círio ilumina as trevas no sábado santo. É a celebração da alegria. Aquela que as mulheres sentiram ao ver Cristo ressuscitado, que Nossa Senhora sentiu ao ter seu filho de novo em seu corpo glorioso, dos apóstolos ao verem o mestre novamente com eles. O glória cantado alegremente, o aleluia entoado solenemente, a invocação de todos os santos que participam conosco dessa liturgia na Igreja Triunfante. Como é belo ser católico, como é belo fazer parte não só de uma tradição milenar mas também de uma liturgia que acontece na eternidade. 

É tempo de agradecer. Agradecer pela Eucaristia, pelo sacerdócio. Agradecer por cada sofrimento que Cristo suportou por nós, por cada gota de sangue derramada na cruz. Agradecer pela sua gloriosa ressurreição, pela união com todos os santos e anjos do céu. É a derradeira ação de graças. 

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