quarta-feira, 29 de abril de 2020

Objeto de desejo

Esses desejos violentos se apresentam por meio de belezas inefáveis, por meio de olhares tímidos, cabelos negros e peles brilhantes como indicam a tenra idade. Esses desejos violentos têm no homem fins violentos com a consumação daqueles apetites mais primitivos, despertados num sorriso, num apelo dramático e muitas vezes involuntário da natureza libidinosa, daquela chama luxuriante que se mostra lúgubre nos calabouços mais obscuros da consciência humana. 

E a alegria, doce e fugaz, resplandece no encanto, no encanto do primeiro beijo, do toque quente que se verte em pólvora ou do primeiro pranto. Essa é a essência do homem, deixar-se inebriar pela beleza, sonhar com as cenas mais torpes que sua imaginação erótica pode lhe proporcionar. Excitar-se no perfume exalado pelo objeto de seu desejo. 

No fim destroem-se em sua própria carne, consumida em fogo e prazer, restando apenas as cinzas, de um amor imoral que um dia transcendeu o próprio ápice do ser, movido apenas pela beleza da qual não se pode fugir.

O homem se consome, entre as labaredas ardentes de seus pecados, se consome em santo amor entre os amplexos do amado, se consome em gemidos de ferida como o cervo abatido. Se consome em horror, em negação pelo não que não pode ser dito, pelo que foi dito, pelo que foi feito, pelo maldito. Se consome de amor, se consome num apetite insaciável, se consome de sua própria existência humana.

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