segunda-feira, 20 de abril de 2020

Somos um suspiro


As pessoas são rápidas em esquecer. Rápidas em trocar. Trocamos rápido de interesses, de música favorita, de roupa, de amigos e parceiros. Acho que a permanência não foi feita para o homem, afinal, experimentamos a transitoriedades desde o dia em que nascemos. No instante mesmo de nossa concepção já começamos a mudar, no instante mesmo de nossa concepção já caminhamos para nossa morte, e as mudanças não findam com ela, antes disso, da morte nos transformamos ainda mais, voltando ao útero primitivo da terra, servindo de combustível para outras vidas que virão depois de nós, dos vermes que se alimentarão de nosso cadáver. 

Somos criaturas da mudança, e a constância de nossa existência está em saber que nunca cessaremos de mudar nessa vida. Mudamos porque queremos, porque encontramos coisas melhores, mudamos porque o destino assim escreveu. Mudamos. E não cabe a nós reclamar, apenas aceitar, pois as mudanças continuarão quer a gente queira ou não. 

Feridas se abrem
sangram
se fecham

e podem tornar a sangrar um dia

Olhamos para o lado e vemos algo de novo, nos interessamos, largamos o que temos e o pegamos, e nele nos satisfazemos até que encontremos algo novo de novo. 

É assim, 
somos assim

com coisas e pessoas, 
amigos e amantes. 

Essa transitoriedade faz do corpo, da vida terrestre, algo superficial, apenas arranhamos o ser com ela. A vida de verdade está na imutabilidade das ideias eternas, na vida perene, onde não há a falsidade ou a transitoriedade vulgar desse mundo passageiro, dessa vida fugidia. 

Mas, mesmo sabendo disso desde a primeira vez que vemos alguém de idade avançada, ou que nos deparamos com a morte, ainda é difícil aceitar a passagem da vida. É difícil aceitar que nossa existência terrestre não é mais do que uma grande estação de trem, sempre a mudar. É difícil aceitar pois entre uma mudança e outra, entre um girar e outro da roda do destino, nós nos apegamos ao estado em que estamos, e dói a separação, dói ver a mudança acontecer diante de nossos olhos. 

Como a água do mar 
que num dia é calma e tranquila e
no outro traz morte e destruição. 

Não sei, no entanto, se trata-se de algo universal, comum a todos os homens, parece-me que sim. Mas, antes de enunciar uma verdade universal eu acrescento que trata-se da minha verdade. É na minha vida que observo uma mutabilidade permanente, uma troca sem fim, um rio que nunca para de correr, ainda que vez ou outra me faça rodopiar em suas águas violentas, e me faça chorar diante as partidas da vida, ante as trocas, ante as mudanças de interesses.

Nesse caso  o prazer pela existência desvanece,
o vazio toma conta do ser,
o esperar pela morte é a única coisa a se fazer

E é isso, continuamos mudando, nos interessando por coisas novas a cada novo dia, saindo com novas pessoas a cada piscar de olhos, caindo do posto de importância do primeiro para o último lugar, como se não fôssemos nada, o que de fato não somos. 

Não somos nada. 
Somos menos do que poeira. 

Somos fumaça, se perdendo no ar da imensidão. 

Somos um suspiro. 

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