segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Ainda é cedo amor

Ainda é cedo amor, o dia mal começou e ainda estou um pouco tonto, de sono e de ressaca. Ainda é cedo para dizer como me sinto, embora eu saiba que sinto algo, e que está me incomodando. Acontece que há pouco eu já não sou mais o que era. Ainda não entendi os movimentos que estão acontecendo dentro de mim.

Sinto algo se revirar e algo se acalmar. Acho que uma parte de mim, o realista, filósofo, discípulo de Aristóteles, sabia e só precisava ouvir a verdade, verdade que já havia constatado por meio da experiência, experiência que me deixou uma profunda impressão e que se tornou conhecimento dessa mesma verdade. 

Por outro lado também sinto que essa minha reação fria, que mal chegou as lágrimas, seja reflexo do entorpecimento dos sentidos. De tanto caminhar e cavar os meus pés tornaram-se insensíveis, e eu nem percebia que estava caminhando para a frente do abismo que eu mesmo acabara de cavar. 

É, ainda é cedo para explicar, ou entender. Mas algo precisava dizer. 

Acho que, para conseguir um pouco mais de tempo, vou recorrer há alguns velhos amigos. Ao meu lado tem uma caixa de papel, uma caixa preta, onde guardo os remédios que uso quando quero fugir de tudo e todos, e hoje claramente é um desses dias, principalmente agora quando a música no player desperta algumas recordações, como quando andávamos por Brasília ouvindo música e de mãos dadas. É, de fato eu não estou me sentindo bem. Melhor comer alguma coisa e dormir, quem sabe em algum sonho me seja dada alguma intelecção, ou ao menos eu consiga, não sei ao certo, entender onde estou e o que estou fazendo, e principalmente entender o que deveria fazer de agora em diante. Mas a verdade é que eu gostaria de dormir e não acordar mais, não ser obrigado a pensar em nada disso. 

Não posso estudar hoje, minhas aulas estão suspensas por falta de pagamento. Assim como a luz e a água. Não sei se pagaram a internet, talvez em alguns dias perca também a oportunidade de dizer aqui o que sinto, sendo obrigado a guardar para mim. Não quero procurar alguma aula aleatória na internet, mesmo sabendo que poderia ser bom para me distrair e aprender, mas eu não quero. Não quero tampouco ler um das dezenas de livros que ainda não li, não estou com vontade de nada, eu só quero ficar aqui, ouvindo música quietinho enquanto espero o torpor do tarja preta me envolver e me fazer esquecer de que aqui há um mundo, de que nele há pessoas e que uma delas, a que eu desejei que estivesse comigo, ontem me disse que não sentia a mesma coisa, que eu não deveria sequer me iludir com essa possibilidade. 

E aos poucos as lágrimas começam a brotar, umedecendo os meus olhos e se tornando lentes, ou espelhos, pelas quais eu consigo ver um pouco o que se passa comigo. Eu estava otimista, há dias adiando o que disse, e o disse com coragem, que é algo que costumeiramente me falta, disse e... Deu tudo errado. Eu achei que dessa vez eu conseguiria dar um passo, eu achei que dessa vez estava certo em apostar, mas não, não poderia estar mais errado. Continuo parado, exatamente onde estava e de onde nunca vou sair. Eu recebi um 'não' mas não de apenas uma pessoa, mas o 'não' do próprio universo que decidiu ser esse o meu destino. E eu fiquei, e continuo, aqui de pé, com os olhos marejados, as mãos trêmulas e os lábios cerrados, vendo, com uma tristeza profunda, a verdade sobre mim mesmo, de saco cheio de tanto esperar ser feliz, ou ao menos ter um leve vislumbre de felicidade, mas sendo frustrado uma vez mais. É, não dá pra conter as lágrimas. 

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