sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Jaz derrotado

Cansado. 

O dia foi um grande desafio, e ainda nem terminou. Ser obrigado a acordar, conversar com meus parentes e amigos, ser obrigado a ir na rua, cruzar com as pessoas, andar e conviver, sorrir, responder, acenar. É tudo tão cansativo. Não consigo sequer dizer o quanto preciso me esforçar apenas para responder sim ou não, ou o quanto me manter de pé, do quarto até a cozinha, já me exige um esforço tremendo. 

Cansado.

Cansado. Fiquei umas poucas horas fora de casa, e isso foi mais do que suficiente para me deixar absolutamente exausto, sequer consigo ficar com os olhos abertos. E o maldito vírus ainda me obriga a tomar banho antes que possa deitar, finalmente, ignorando muitas obrigações pendentes, até a hora do próximo compromisso, o qual eu simplesmente gostaria de fingir que não existe, assim como todos os outros aspectos da minha vida, enquanto apenas espero o dia em que tenha forças novamente nos meus ossos e músculos para sair da cama sem que isso seja uma condenação terrível para o meu corpo e minha mente. 

Cansado.

Cansado do corpo, a respiração arfando, cada fibra tremendo em protesto contra o mínimo esforço. Cansado da mente, que não se concentra mais nos filósofos e nos livros, senão que não consegue tirar a imagem dele da minha frente, chegando ao ponto de me fazer sentir o seu perfume e o toque dos seus dedos, mesmo sozinho aqui. 

Cansado.

Cansado, cansado demais para ser qualquer coisa além de uma gosma que se derramou no chão e já não tem mais como se sustentar. Os olhos caídos, o semblante abatido, um retrato cinza do desânimo. Desânimo, a única coisa que eu conheço atualmente, a única realidade a que tenho vivido nos últimos tempos. Desânimo, a alma que se foi abandonado um corpo que já começa a apodrecer. Desânimo, o sopro que se foi, a casca que foi largada inerte sob a terra. Cansado demais para levantar, para trocar a música, para vestir outra roupa que não esteja rasgada ou fedendo, cansado demais sequer para derramar mais uma lágrima, cansado para gritar, cansado para dar o último suspiro.

Cansado.

Cansado de mim, da minha casa, do meu pessimismo, do otimismo alheio, dos sorrisos e das brincadeiras, das vozes altas, do barulho sem justificativa, do sol, dos jingles das campanhas políticas, das minhas obrigações, das promessas que não fiz e que me obrigam a cumprir. Cansado das repetições, de viver em círculos. Cansado dos abandonos, cansado de não ser o bastante. Cansado demais para continuar, cansado demais para dar um passo a mais sequer. Cansado do homem, do ser, da existência, do todo e do nada em que estou mergulhado. Cansado. 

Cansado.

Cansado da cor da minha pele e da textura do meu cabelo. Cansado do meu corpo que não o atrai, cansado de saber que não posso mudar para ele, cansado de saber que não sou bom o bastante para ninguém, cansado de saber que ninguém nunca vai me querer, cansado de viver como se houvesse uma razão para acordar todos os dias e estudar coisas das quais ninguém nunca ouviu falar e pelas quais ninguém se interessa apenas porque me dão a ilusão de que são importantes. Cansado de ser alguém que não é ninguém. 

Cansado.

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