sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Peito florido

Queria você aqui comigo, ao menos me fazendo companhia, ao menos me deixando encostar a cabeça no seu peito. Queria ficar deitado com você, ouvindo alguma coisa, um álbum romântico talvez, você sabe que eu sou um bobo apaixonado. 

Chocolate quente, bateu uma brisa um pouco mais fria no últimos dias, aproveitamos pra ficar juntos no sofá enrolados no cobertor. Imagina nós dois numa cabana no alto de uma colina, com aquelas janelas de vidro, o céu estrelado, as coníferas salpicadas de neve. Eu queria ver algo assim, longe dessas paredes que sufocam, dos muros que aprisionam, da miséria humana que me cerca como lama, me puxando cada vez mais para baixo, enquanto tento alcançar a sua mão...

Sabe, é que de repente eu me senti assim, subitamente necessitado de ti, meu coração palpita, ignorando tudo o mais, fugindo do mundo em direção aquela realidade onde só há nós dois, mesmo sabendo que, na verdade, nela habito sozinho. 

Não há ninguém deitado comigo, em meu peito florido que inteiro para você eu guardo a brisa faz as pétalas voarem para o céu distante, mesclando suas pequeninas formas com os pingos de luz salpicados pela gigantesca tapeçaria que se abre acima de mim. Sinto a brisa fria dos cedros ao meu redor e, mesmo sendo reconfortante saber que não há mais ninguém aqui para me machucar, também é assustador perceber que não há ninguém aqui para me amar. Como pode, o objeto do pensamento que me faz sonhar ser o mesmo que me faz chorar?

Dramático não? É bem patético, e nem precisa pensar muito pra sentir o quanto isso é ridículo, mas infelizmente não avisaram isso e, quando dei por mim, já me sentia assim, fugindo para um mundo só meu, prestes a entrar em colapso uma vez mais, onde não há possibilidade de resgate, onde a brisa se transforma na massa de ar quente que destrói tudo por onde passa. 

Esse mundo de fantasia, onde os casais ficam felizes, do outro lado do mundo, é mais bonito e mais agradável do que as paredes descascadas do meu quarto, do que a cerâmica encardida da casa ou das portas batidas com força. Na verdade qualquer lugar é melhor do que aqui. 

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