segunda-feira, 16 de novembro de 2020

O Grande Panteão

Em algum ponto sem localização precisa aos homens ergue-se uma imponentíssima fortaleza. Parece que ela muda de lugar, para que ninguém a possa encontrá-la pelos meios convencionais conhecidos pelos mortais. Ao seu redor há uma permanente muralha de nuvens e tempestades de neve e, ainda assim, quando o sol brilha no alto, ainda que timidamente, o contato de seus raios com a superfície de cristal faz com que ela brilhe tão intensamente quanto o próprio sol, uma morada para os deuses.

Parece poder abrigar centenas de famílias com luxo e espaço de sobra, ainda que esteja quase sempre completamente fazia. Suas inúmeras torres erguem-se como flores que se abrem ao céu, ao passo que incontáveis passagens, janelas e corredores visíveis dão uma vaga ideia da importância daquele palácio no centro do mundo, rodeado de nuvens. 

Ali são decididas as questões mais relevantes, e as mais discretas, acerca de toda a humanidade. Ali se reúnem não apenas um panteão grego ou nórdico, mas todos os deuses da humanidade, que governam e zelam pelos homens. 

Em dias especiais, os cavaleiros reais, divididos em três grandes classes, guardam o palácio do Grande Panteão e recebem as comitivas das grandes divindades. Centenas de carruagens puxadas por cavalos alados, de pelos tão branco que chegam a brilhar, rodas de ouro e adornos das mais ricas e raras joias que possam ser encontradas ali. São os deuses do Olimpo, chegando um a um ou em pares. Zeus, com pequenos raios saindo de seus olhos, e Hera, Atena, Apolo e Ártemis e tantos outros. Trajam suas armaduras sagradas, forjadas por Hefesto de um metal extremamente raro, juntamente com pó de estrelas aquelas armaduras são as mais poderosas já criadas, além de que brilham como se fossem feitas do brilho das próprias estrelas, cintilando com graça extrema. Todos descem e entram, andando altivamente, quase como se flutuassem sobre o chão, em direção ao grande umbral, que os conduzirá a grande Assembléia Central. 

Algum tempo depois do último olimpiano ter passado, Dionísio, gracejando com os cavaleiros de bronze próximos da entrada, com um cheiro doce e inebriante de vinho, uma nuvem dourada surge em contraste com o branco da paisagem. Do alto das torres os cavaleiros de prata observam aquela nuvem crescem, e se perguntam se pode haver uma tempestade de areia naquele deserto de gelo, mas logo percebem que se trata de outra coisa, areia não brilha daquela maneira. 

É uma imensa tempestade de ouro, pó de ouro, que logo cobre o chão com uma nobreza antiquíssima, precedendo a chegada dos próximos convidados.  O panteão egípcio é tão vasto quanto o olimpiano, mas essa é a única semelhança entre eles, além é claro da aparência divinal de cada um de seus pares. Eles chegam de diversas maneiras, alguns em grandes carruagens puxadas por diversos animais, outros vem em suas próprias formas animais, como um grande falcão e um gato negro gigantescos, ou a jovem com grandes asas coloridas que brilham no céu em verde e amarelo que, tão logo pousam com uma graciosidade na terra, transformam-se em homens, ou melhor, em deuses com aparência de homens. Os deuses são altos, de pele escura e brilhante, os corpos desnudos em contraste com a terra de gelo, são bronzeados pois vêm de um mundo onde o sol reina absoluto. E ele, o sol, Rá, chega por último, em uma carruagem maior que todas as outras, cujas rodas são de fogo puro, tão brilhante quanto a armadura de Apolo, o outro deus sol que há pouco entrou no castelo.

Do céu se abre uma clareira naquele cinza mortal, e um enorme feixe de luz atinge o chão, fazendo o ouro rodopiar e se dispersar, misturando-se com a neve. A luz é de várias cores, um grande arco-íris que rasgou o céu, trazendo consigo o panteão nórdico. A frente da comitiva vai Thor, o grande deus trovão, e a cada passo parece fazer tremer o mundo, seguido por seu irmão, Loki, pequeno mas de aparência astuta, e outros guerreiros, trajando pesadas armaduras, não brilhantes como as dos gregos, mas que pareciam ser ainda mais indestrutíveis. Algumas das deusas são as mulheres mais graciosas que já se vira e, por fim, numa imponência única, Odin com sua grande lança e sua capa esvoaçante, fechando o séquito.

Outros chegam durante todo o dia, e juntam-se aos colegas na mais estranha das convenções. Poseidon e Hórus conversam seriamente, como amigos de longa data tratam de negócios. Ísis e Afrodite riem-se enquanto olham para alguns dos belos deuses que as cercam. Hades e Anúbis riem de alguma piada. 

Como grande gigantes, maiores ainda do que o castelo, Brama, Vixenu, Ganesha e Xiva se aproximam,  com muitos outros atrás, em tamanho menor, desfazendo-se em poeira colorida conforme aproximam-se da entrada, já em tamanho normal. Os babilônicos chegam numa única grande carruagem, descendo dela Marduk, Enki, Ishtar e muitos outros e os ameríndios, Tezcatlipoca, Quetzalcoatl, Ometeotl  e seu séquito voando em gigantescas criaturas aladas de plumas coloridas, surgidas de um grande circulo de pedra sola que se abriu no céu. Tantos outros vão chegando até que se completa a reunião.

Finalmente os últimos a chegar, os quatro grandes seres. O tigre branco, o dragão de Avalon, a Fênix e a Tartaruga Negra, chegam em silêncio, não de fora do panteão, mas de seus próprios quartos, em algum lugar naquela imensa fortaleza. 

O hall da assembléia é enorme, construído sob o mármore branco mais nobre. De aparência frágil, no seu todo, com seu piso branco e paredes em cristal, parece que não aguentariam um arranhão, mas aquela fortaleza, literalmente construída pelos deuses poderia suportar o impacto de milhares de bombas atômicas que, mesmo destruindo todo o planeta, não a deixaria mais do que com algumas marcas de fuligem, que o vento logo trataria de lançar para longe, mantendo todo seu esplendor. O mesmo se pode dizer do Olimpo, dos Jardins Suspensos da Babilônia ou de Valhala, cada uma em sua indestrutível solidez e beleza. Todos os deuses estão sentados em um grande cemi-circulo, na parte principal, um pouco mais atrás, os quatro tronos dos quatros seres, que a essa altura já se tornaram humanos novamente. A frente desses mais três tronos, em outra altura, sendo que nenhum fica á frente do outro. O trono do centro é o mais luxuoso de todo aquele templo. Não é como o de mármore como o dos gregos, ou de ouro como o dos egípcios, mas é como se fosse feito de luz, pairando acima do chão, brilhando mais do que todas as pedras preciosas do mundo, em seu encosto, uma grande cruz brilha em vermelho, como se fosse sangue, ainda sendo bombeado dentro do corpo.

Ao lado dele estão dois tronos menores, talvez os mais simples dali, mesmo sendo talvez os mais importantes, já que o do centro, o do Cordeiro, não será ocupado. Esses tronos são de um material, nobre, é verdade, um branco e o outro preto, mas simples, apenas com um pequeno adorno na parte de cima, o sol, no branco, e a lua no preto. São os tronos dos arautos, aqueles que congregam todos os panteões numa só unidade. Nele sentam-se dois humanos, protegidos por doze cavaleiros de ouro, postos atrás de seus lugares. Cada um segura um grande báculo encimado com o sol, a lua e  uma cruz ao centro, e vestem túnicas em cores opostas as de seus tronos. 

O guardião do sol, o pequeno Heron, de cabelos castanhos e sorriso doce, porém sério, mantém em silêncio, de pé, enquanto o guardião da lua, Gilgamesh, em sua túnica branca, cabelos negros na altura do ombro e báculo encimado com uma lua, dá início a reunião daqueles que guiarão a humanidade, acordados de seu sono de milênios, desde que pouco a pouco os homens foram esquecendo-se deles. E a grande reunião dos deuses no centro do mundo começa. 

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