quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Pequenos ditos do que vi ou senti

Bem, agora são quase duas da madrugada, você acaba de virar a rua no seu carro depois de me dar um abraço apertado, tão quente e carinhoso que eu realmente gostaria que durasse para sempre. Seus braços são fortes e, entrelaçando os meus em volta do seu pescoço, com nossos corpos se tocando, coração com coração, eu sinto o meu amor se inflamar. Infelizmente eu sei que a forma que você me ama não a mesma que eu te amo. Eu disse "Eu te amo" em seu ouvido e você respondeu enquanto nos abraçávamos, mas eu sei que sou especial para você como um amigo muito próximo, como um companheiro de bebida, mas não como um amor. E é isso, esse é um dos finais possíveis. 

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Feri meu próprio rosto, eu me machuquei mais uma vez, como não fazia desde que me sentia tão sozinho a ponto de querer desesperadamente a atenção dos outros atraída pelas linhas de sangue que escorriam pelo meu braço. Mas dessa vez não foram as lâminas as responsáveis pelo ferimento. Foi a vaidade, a vontade de atingir um padrão de beleza inalcançável, uma tentativa desesperada de me sentir bem comigo mesmo, de atrair você, de atrair os outros. Só queria ser bonito, parecer atraente aos outros, não ser senão normal. Queria ter contatos no celular, poder escolher com quem sair, eu só queria me sentir amado, desejado. Mas eu também queria me sentir sujo, eu queria fazer coisas quase abomináveis, me entregar completamente aos prazeres como uma besta voraz devorando sua presa indefesa. Eu só queria um cabelo liso, uma pele mais clara, um corpo definido, eu só queria parecer alguém desejável aos olhos dos outros. Dessa forma os outros, me achando atraente, me convenceriam que sou atraente, e não ficaria tão infeliz ao olhar no espelho e ver não um homem bonito como aqueles que eu vejo vejo nas séries, mas um arremedo, alguém excepcionalmente comum. 

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Preferi ficar sozinho, não por estar chateado com os outros, não por ter tido a minha eficiência questionada. Preferi ficar sozinho por me odiar demais para obrigar qualquer um a ficar perto de mim. Eu não sou o bastante para conviver, não mereço isso. Simplesmente não consigo fazer nada direito, parece que tudo em mim, desde meu nascimento até os pequenos detalhes do meu ser são erros. Eu sou uma pessoa que não devia existir. Sou um arremedo de gente, uma boneca de trapos dotada de consciência, cujo única capacidade é a de observar a própria incompetência e a totalidade de sua insignificância. Sou como essa gotinha de chuva que cai agora passando pela janela do meu quarto, tão logo chega ao chão ela se desfaz e parece não ter a menor influência no meio de tantas outras milhões de gotas. Tanto quanto puder ficar longe dos outros é melhor para eles.

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Tinha jurado a mim mesmo que não iria mais me rebaixar, mas as últimas palavras que disse foram me desculpando por sentir demais, por ser quem sou, me desculpando mais uma vez por algo que sequer foi minha culpa. Quando eu deixarei de ser tão patético assim? Você não tem sequer um pingo de amor próprio? Como pode se detestar tanto, como se odeia a um inimigo ou a uma praga que dizimou sua família? Como pode se detestar  assim? 

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Tomar uma decisão é sempre difícil quando se pensa demais. O fator bipolar sempre aponta pro lado inesperado. Posso não conseguir tomar decisão nenhuma e sofrer com isso mesmo não suportando mais ou meter na cabeça uma decisão e não descansar até que cumpra, com uma boa dose de ansiedade pra completar. Mas é sempre necessário tomar decisões, não posso me furtar a isso, mesmo que quisesse, reflexo de uma covardia latente. Eu tomei minha decisão, e mantenho minha palavra, não quero fazer ou ser nada que não seja o meu melhor, mesmo que meu melhor seja bem ruinzinho para os padrões...

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