quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Como sombra evanescente

Aparentemente meu semblante não está dos melhores, já desde sábado, porque mais de uma vez vieram me perguntar o que está acontecendo comigo. Bem, no sábado eu já me sentia profundamente incomodado com a intensidade do barulho das crianças e cachorros no trabalho, foi um dia incômodo e eu percebi o quanto sou triste e amargurado e não suporto essa galerinha alternativa pai de pet que não percebe a inconveniência de ficar por aí andando com esses bichos que volta e meia se revoltam a fazem barulho gratuitamente. O mesmo vale para os pais que não enxergam nada de errado em deixar os filhos destruírem o mundo porque não querem impor nenhum tipo de limite e por isso mesmo essas pestes vão crescer achando que tudo tem que ser como elas querem e, quando o mundo mostra com mãos de ferro que isso não é verdade, elas vão se tornar uma geração ainda mais deprimida do que a atual. 

Eu me encontro na verdade incomodado com a bagunça ao redor, refletindo na minha mente. Queria conseguir organizar as coisas, deixar um pouco menos de informação ao meu dispor, seja na decoração da casa quanto na informação que eu consumo online porque sinto que essa super estimulação na verdade tem me levado ao estado de exasperação, ou torpor, alucinatória, porque tudo se torna ainda mais evanescente e passageiro, e nisso o verdadeiro conhecimento se perde em meio as miríades de estrelas brilhantes que piscam por um segundo antes de desaparecerem, me cegando aquela luz verdadeira que boia no oceano desconhecido. 

Também continuo em luta contra meu próprio senso estético que insiste em ver beleza apenas no inalcançável ideal, em sua maioria asiático, delicado e de aparência forte. Um elemento esse que deprime e pesa cada vez que me olho no espelho. Mas sobre isso eu já falei tantas outras vezes. E é isso que tem me feito mais introspectivo e taciturno nos últimos dias, pois estou tomado de um pessimismo forte que me tem feito ver o mundo com olhos céticos e quase niilistas, enquanto convivo com pessoas que insistem em viver mergulhadas em grossas camadas de mentiras superficiais como se isso fosse a única realidade. 

X

Me veio uma breve recordação de quando ficávamos deitados juntos, às vezes sob efeito do álcool ou de alguma tristeza. De todo modo nos apoiávamos assim, você gostava da minha companhia, de que eu o ouvisse e eu gostava de me deitar sob seu peito, segurar sua mão e sentir seu calor. E como eu gostava daquele momento de intimidade, tanto que até minha mãe pensava que algo mais acontecia entre a gente, e infelizmente nunca aconteceu, além disso hoje nem nos falamos mais, e não só estou longe do seu peito como ainda mais longe do seu coração. Aliás, acho que nunca estive verdadeiramente no seu coração. 

X

Uma miscelânea de cores contrastam nesse dia.  Preciso me cuidar um pouco, fazer a barba, hidratar o cabelo, arrumar as unhas... Mas não quero nada disso. Sinto uma preguiça extrema em pensar em fazer essas coisas, me odeio por ver a barba crescer e me deixar com a aparência cada vez mais animalesca, me dando a impressão de ser aquela fera impetuosa que anda por aí procurando a quem devorar. Quero dormir, ignorar até mesmo o novo dorama que comecei, com dois lindos protagonistas, mas olhar pra eles me deixa triste. O pessoal aqui de casa quer beber hoje de novo, e eu só quero ficar quietinho, sozinho, nem de ler tenho vontade, apenas quero que as horas passem, e nem sei o que farei quando elas passarem. Amanhã volto pro trabalho, o tédio de cada dia... E enquanto penso nisso vejo as minhas unhas descascarem, e eu percebo que preciso cuidar delas e, ao perceber isso, percebo ainda que o que estou fazendo continua sendo viver no mínimo. Eu acordo, vou pro trabalho, volto cansado e assisto um pouco antes de cair na cama de novo. E apenas isso. E acho que não tem muita coisa além disso. Muito embora as grandes questões continuem importantes pra mim elas o são apenas no plano da eternidade, do qual essa vida é apenas sombra e, como sombra, eu existo sem muita presença, algo meio evanescente. 

E não importa o que faça, o resultado não é tão bom assim, no máximo é aceitável, e eu mesmo não aceito. E então, e sim voltarei a tocar nesse assunto, eu vejo os belos modelos na internet, de pele e cabelos perfeitos, com os olhos iluminados, ou vejo os idols com trabalhos o dia todo, sorrindo, dançando e brincando, e me pergunto: como eles conseguem fazer tudo isso? Eu não consigo ter força pra muita coisa. Fiz uma hidratação rápida no cabelo porque estava sem paciência, a barba ficou falhada e as unhas ainda têm manchas do esmalte anterior pelo mesmo motivo. É tudo assim, de qualquer jeito, porque eu não tenho forças pra fazer melhor. Só tenho forças pra dormir profundamente. 

Não é como se nada tivesse mudado, mudou e eu reconheço isso, muitas coisas melhoraram: ainda que limitado agora eu tenho dinheiro para voltar a retomar algumas atividades, para comprar livros e cursos. Mas eu nem tenho mais tanta força assim pra cuidar dessas coisas e só continuo pensando nelas porque essa vontade de conhecer é mais forte ainda que o cansaço que eu sinto, e mesmo ele reduzindo o ritmo eu continuo conseguindo seguir em frente e seguir o conselho do meu professor: não parar, não precipitar e não retroceder!

X

E se ontem estava deprimido, querendo silêncio e solidão, hoje eu amanheci com toda a força e disposição que me faltaram nos últimos três dias. Um sinal claro de um episódio misto, numa ciclagem rápida. O fluxo de pensamentos rápidos, o humor volátil, a vista daquele menino me fazendo voar a imaginação, o sol quente me fazendo desejar a destruição do mundo pela última chama da espada longa de Yamamoto. O foco se foi, apenas vêm pensamentos e mais pensamentos numa profusão da qual não posso fugir. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário