domingo, 6 de novembro de 2022

Dia de Finados

"Tudo em volta induz à loucura, ao infantilismo, à exasperação imaginativa. Contra isso o estudo não basta. Tomem consciência da infecção moral e lutem, lutem, lutem pelo seu equilíbrio, pela sua maturidade, pela sua lucidez. Tenham a normalidade, a sanidade, a centralidade da psique como um ideal. Prometam a vocês mesmos ser personalidades fortes, bem estruturadas, serenas no meio da tempestade, prontas a vencer todos os obstáculos com a ajuda de Deus e de mais ninguém. Prometam SER e não apenas pedir, obter, sentir, desfrutar.”

(Olavo de Carvalho)

Também tive a experiência de, pela primeira vez, ir ao cinema sozinho. Saindo do trabalho aproveitei uma sessão que começaria em alguns minutos e que ficava bem perto de onde estava. E eu que, sendo tão dependente afetivamente, tão carente, sonhava com isso. É um passo simples, tão normal para tantas pessoas, mas para mim foi um marco, de que eu já não preciso depender dos outros. Não me senti sozinho, não me senti triste, mas ao contrário, eu me senti suficiente. Não que me considere suficiente o tempo todo mas ali, eu não esperava por ninguém e ainda me sentia bem com isso. Coisa parecida quero sentir com os homens que passam por mim, todos belos e que despertam em mim desejo e admiração mas, um dia, espero que sejam apenas isso, outras pessoas sem maior significado para mim. Como nas palavras de Santa Terezinha ao falar a Deus sobre sua relação com os outros:

"Que eu nunca procure e nunca encontre senão a Ti
Que as criaturas não sejam nada para mim
E que eu nada seja para elas
Mas que Tu, Jesus, sejas tudo... tudo!"

E assim, mas com um pessimismo profundo no olhar, eu me fecho em mim para não desejar e nem esperar nada do outro. Esperar em Deus, dos homens apenas dor e decepções. Que eu nada espere deles e que eles nada esperem de mim. E que eu continue meu caminho de busca da Verdade ainda que na solidão do homens, certo apenas da companhia dos sábios e do próprio Cristo que é a Verdade. 

Por isso o dia de hoje, Comemoração dos Fiéis Defuntos no calendário litúrgico, é de cor sóbria e fechada, o preto, o mesmo preto que há em minh'alma e que não espera outra luz senão a do próprio Deus. E então é com esse espírito que fecho os olhos para os homens bonitos, para os desejos de fama e dinheiro que esvaziam o conteúdo do ser fechando-o em si mesmo. E é isso, encerrando em mim eu me abro ao transcendente, esquecendo essa realidade imanente que me cerca e me traz tantas dores. 

Penso em assumir uma posição ainda mais silenciosa e contemplativa pois, cansado de falar e não ser ouvido eu não quero mais me forçar a ser compreendido mas, antes disso, eu preciso fazer o esforço constante de compreender, e por isso a contemplação silenciosa e amorosa se faz necessária. As palavras têm enchido a mente das pessoas de confusão, há muito falatório por todo lado e isso acaba por cegar as pessoas para a verdade, passam a se ouvir em vez de ouvir a Verdade e, quando isso acontece, a loucura se espalha por todos os lados. 

"... quanto mais você sabe, menos você será compreendido por aqueles que não sabem. Se você quer pagar este preço, se você acha que o conhecimento vale isso - eu acho que vale, dediquei a minha vida a isso e não estou nem um pouco arrependido, mas eu tive que aprender ao longo do tempo a não esperar ser compreendido pelos ignorantes, eles não têm como compreender - então essa é a primeira coisa..."

(Olavo de Carvalho)

Mudando um pouco de assunto mas não completamente, dei uma diminuída no ritmo ontem à noite, e achei que iria acordar bem mais pra baixo, no entanto foi justamente o contrário, acordei mais cedo do que era necessário e aproveitei para estudar um pouco, com uma estranha disposição antes mesmo do sol nascer. Mas isso não significa que eu vou ficar o tempo todo assim. Mesmo disposto eu ainda estou introspectivo, até um pouco taciturno, e torcendo pra ninguém (ou a menor quantidade possível de pessoas) venha aqui no trabalho hoje. Mas eu não queria ficar só deitado, queria até mesmo poder caminhar na beira do mar como fiz ontem à tarde ou me sentar num parque, quem sabe ouvir uma música. 

É um belo dia, embora o sol esteja forte e brilhante não faz calor, inclusive algumas pessoas estão até usando casaco na sombra, e por mim poderia ficar sempre alternando entre dias assim e dias completamente nublados... Ironicamente pra alguém que gostaria de ficar em silêncio eu preciso falar bastante. Pelo menos eu não posso reclamar que também não gosto de falar. 

X

Em meio ao que me parece um episódio misto ontem eu experimentei esse fluxo maior de energia, por outro lado hoje acordei com um cansaço extremo, como se tivesse feito exercício durante toda a noite, algo próximo a ter atravessado a nado a bacia do rio Amazonas. Foi como se centenas de agulhas perfurassem a minha carne, como se as fibras de meus músculos se rompessem, rasgadas violentamente quando forcei me levantar. A claridade violenta agredindo meus olhos e um peso extremo, como se estivesse amarrado, preso a correntes incandescentes, uma tortura de um dia inteiro que apenas cessará quando cair na escuridão e silêncio de uma boa noite de sono.

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