quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Frenesi

Percebi antes de dormir ontem à noite que algo estava mudando e por conta do cansaço talvez não tivesse não notado mais cedo, mas mesmo indo dormir bem mais tarde que o normal eu não estava com sono, e acordei elétrico, cantando, disposto até a arrumar o cabelo mais do que como de costume. E então eu entendi, que tinha entrado num novo episódio de hipomania, chegando ao trabalho tendo feito o trajeto a pé em metade do tempo habitual. 

Minha fala está notavelmente mais rápida, preciso ficar atento aos visitantes aqui no trabalho para não falar demais, mas a mente começa a girar, informações se cruzam de um jeito que não deveriam, um sinal de confusão mental, a atenção girando ao redor de tudo ao mesmo tempo. Acabei me incomodando com isso e, olhando no espelho vi que minha feição estava visivelmente alterada, pupilas dilatadas... Fiz um pouco de chá na esperança de me acalmar um pouco mas, como não sabia que isso ia acontecer, acabei trazendo energético pro trabalho, o que significa que isso vai maximizar ainda mais os efeitos do episódio hoje. Nesse momento estou na cozinha, escrevendo, depois de comer, tirar fotos, responder mensagens, ver um vídeo e ouvir música, e ainda nem passou metade do horário de almoço. 

Claro, é ótimo sentir energia e disposição, coisa que, embora ultimamente não tenha tido tanto problema assim, ainda são coisas que me faltam, sendo que continuo bem menos ativo que ouras pessoas, mas ao mesmo tempo esse furor, esses estado de certa confusão mental, me incomodam, me assustam, porque bem sei que, se não vigiar cada passo, cada movimento, eu posso acabar fazendo algo errado, dizendo algo errado ou me comprometendo negativamente. 

Sinto como se pudesse construir uma casa inteira, facilmente virar a noite assistindo ou, quem sabe, numa festa ou uma orgia, talvez tudo isso ao mesmo tempo. É eletrizante e, embora seja claro aqui, é também assustador pois eu sinto que a qualquer momento isso pode se esvair ou, pior, eu posso acabar explodindo, e eu nunca sei como ou quando isso pode acontece.

X

Preciso fazer a minha barba, aplicar alguns produtos pra melhorar a aparência do meu rosto. Tantos pelos me incomodam e eu fico cada vez mais recluso porque essa imagem me angustia tanto que eu preciso me afastar de todos para não incomodar com minha presença e, ao mesmo tempo, conseguir pensar em paz. Aqueles rostos belos, sem nenhuma imperfeição, também passam por um processo, o qual eu não consigo acompanhar, de se cuidar o tempo todo. Andam com equipes que se preocupam em lembrar a hora de reaplicar o protetor solar, são patrocinados pelas melhores marcas de skincare, os melhores maquiadores e fotógrafos de modo que o resultado seja sempre perfeito. 

Eu preciso me barbear e depilar, peito e pernas, preciso fazer uma maquiagem cuidadosa, de modo a não ser carnavalesca demais mas ainda passar a imagem de plenitude que conquistam os demais. Depois disso talvez o conjunto fosse aceitável, mas nem sempre o é. E isso me incomoda porque uma vez mais eu me pego admirando-os, sonhando como ser ser aceito e amado, admirado por ser belo e carismático. 

É um sinal claro de pequenez intelectual, querer ser aceito e, ainda por cima, usando aspectos que são tão efêmeros e superficiais que nem deveriam entrar na conta da minha perspectiva do ser. Isso mostra o quanto estou ainda preso nas minhas limitações e o quanto preciso caminhar para conseguir me preocupar tão somente com o que é importante. 

Discussões políticas que não levam em consideração planos maiores de ações políticas, mas que apenas se preocupam com o imediatismo. É algo do qual que preciso me livrar. Embora a beleza esteja sim presente nos homens belos, por uma participação da beleza divina neles, essa ainda é muito limitada, devendo ser buscada em lugares cada vez mais elevador. 

"Que as coisas do mundo jamais consigam perturbar min'alma, e que eu nada seja, para elas..."
(Santa Terezinha)

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