quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Melancolia e Aprovação

Uma certa melancolia vem se mostrando no fundo do meu pensamento desse que, começando brilhante e claro, termina fresco e escuro pelas nuvens de chumbo que se formaram. Pensei em caminhar um pouco à beira do mar mas acabei ficando com preguiça, e amanhã provavelmente não irei porque já me programei a dormir o dia todo, mantendo por enquanto esse meu hábito de tirar um dia da semana para dedica a uma dopada soneca de oito horas. 

Essa pequena perturbação na minha fonte secreta, cujo curso límpido e calmo foi maculado por uma pedra que agitou sua superfície fez aparecer ali uma imagem, turva é verdade, mas que claramente mostra um rosto, pouco conhecido e distante que nem mesmo sabe o meu nome... A imagem dele aparece e perturba minh'alma, ao mesmo tempo que surgem no meu coração os casais jovens e felizes que, do outro lado do mundo, nas histórias que eu acompanho, dormem juntos e se abraçam em noites de pesadelos, que se apoiam nos momentos mais complicados. 

Essas imagens, de abraços apertados, momentos de intimidade, de dedos que deslizam sob a pele iluminada pela luz da lua que passa pela cortina, essas imagens me enchem então dessa melancolia que vai transbordando da minha fonte e se tornando então uma maré alta, daquelas que se quebram violentamente contra os blocos de pedra formando uma espuma e que vem acompanhada de fortes ventos. E eu? Me encontro sentado à beira dessa cena, esperando que ela me cubra completamente, e logo deve acontecer pois já sinto minha respiração pesar conforme a água sobe, conforme meu coração aperta mais e mais enquanto a imagem dele, tanto mais viva quanto mais ele se afasta de mim. 

Essa melancolia é pela constatação da verdade de nossa distância, é um adágio lamentoso que meu ser entoa como a um violino solitário à beira dessa fonte, interrompendo o silêncio com seu choro profundamente melódico e sentimental. O instrumento verte suas lágrimas nas notas em pianíssimo e que vão diminuindo pouco a pouco, misturando-se ao som da água que sobe e logo se perdendo em meio a tempestade. 

Numa outra visão, diferente porém ainda relacionada na intimidade daquele que a tem, vejo dois jovens descobrindo o amor, aproximando-se gradualmente, descobrindo a intimidade e não me refiro ao sexo, mas a intimidade de ficar em silêncio ao lado da pessoa, compreendendo que, embora ela precise da ausência de palavras, ela precisa da presença, fazendo valer as palavras do poeta espanhol de que "ferida de amor não se cura, se não com a presença e a figura". E então descobrem a doçura que há no sorriso um do outro, o mais novo com aquele candura tímida, gentil e pura, enquanto o outro sorri de encantamento ao ver diante de si uma beleza tão cândida que dissipa, como a luz da manhã, as névoas de um coração fechado e machucado. 

Então encontram a simples felicidade de estar com alguém simples, partilhar as pequenas alegrias de uma bela visão do mar ou do lançamento daquele filme esperado, e também se apoiam nas dores, quando perdemos alguém importante ou quando o trabalho começa a pesar demais. E também nas grandes coisas, as maiores conquistas como aquela promoção esperada, uma grande oportunidade, e também as tragédias, seja a descoberta de uma traição ou a morte de alguém próximo, a desolada solidão, o desespero dos pânicos noturno. E aí eles voltam um para o outro, num abraço apertado, caminhando no parque de mãos dadas, e então tudo melhora... 

X

Dicotomia: Parte de mim não se importa com o que os outros pensam. Francamente costumo postar sobre qualquer coisa e aqui mesmo escrevo sem filtro, desde meus sonhos mais bobos até as minhas fantasias. Nas redes sociais não é muito diferente, com frequência posto as coisas que penso e, principalmente as que eu gosto. Isso faz com que eu não ligue se a pessoa gosta ou não do que eu posto, de qualquer forma eu agiria do mesmo modo. Por outro lado eu ainda sinto que algo em mim deseja aprovação do meio e dos pares, e por isso eu continuo tentando ser aprovado e querido, e me sinto pra baixo quando vejo que as pessoas acabam não dando bola pro que eu digo.

Por um lado não me importo de falar sozinho e por outro me importo sim. É uma tensão então entre a minha personalidade formada e com as minhas próprias convicções que busco fortalecer cada vez mais com estudo e experiência. E do outro lado da corda há alguém desesperado por atenção e aprovação e que precisa do outro para validar a si mesmo, vivendo de compaixão ao mesmo tempo que tomo consciência da inutilidade da opinião do outro, que de nada serve ser aprovado pelo  meio e que o desejo de aprovação só corrompe a personalidade por nos fazer negociar aquela porção da alma que jamais deveria ser negociada, aquela lei natural impressa na intimidade do ser apenas para ser aceito na superficialidade de uma comunidade. 

Essa consciência, no entanto, não me impede de ficar profundamente magoado com a indiferença do outro, o que me mostra de uma forma brutalmente clara que, na realidade, embora eu tenha compreensão do qual deve ser a posição em relação a opinião do outro e a ser visto pelo grupo, eu ainda sou imaturo demais a ponto de continuar ao menos desejando essa aprovação. 

Após uma decepção desse tipo, quando esperava ser notado, me senti então inferior, me culpando pela minha própria irrelevância e desejoso desse estímulo que vem de fora e que me possa ajudar a suprir esse vazio e constante sensação de inferioridade que me cega e me persegue.

X

A vida de estudos compreende, por definição, todos os aspectos da vida daquele que a busca, de modo que o que se é aprendido só tem valor se relacionado a realidade que cerca o sujeito cognoscente. Esse sujeito ao ter contato com a Verdade toma então consciência do mundo de uma forma diferente dos demais ainda presos a visões diminuídas pelas filosofias que se disseminaram nos últimos séculos e tornaram não só aceitável obrigatória a divisão de toda a realidade entre aquilo que pode ser objetivamente conhecido por meio da ciência matemática e aquilo que é subjetivo e, portanto, não pode ser conhecido. A despeito dessa visão uma vida séria de estudos permite ao homem superar esse dogma e fincar os pés na realidade mesma, conhecendo o que se pode conhecer do mundo na consciência individual. Claro que isso gera o efeito de formar a personalidade e assim fazer brotar uma vida que se paute nos ideais de virtude aprendidos dos grandes mestres da humanidade, sendo a obrigação material e moral do trabalho fazendo parte desse arcabouço adquirido com a busca de uma vida regrada. 

É portanto natural ao homem maduro que ele trabalhe, provenha o próprio sustento e consiga também dar continuidade aos seus estudos, a sua formação mais elevada. Muitas das vezes parece que o mundo luta então contra essa necessidade do sujeito que deseja conhecer. O mundo parece querer esgotar toda a vontade do homem para que ele se encontre cada vez mais e mais distante da Verdade. Com efeito três são os inimigos do homem intelectual, a saber: o mundo, o diabo e a carne. Tudo parece ir contra a virtude e o conhecimento. 

O trabalho cansa o corpo, o diabo cansa a mente e a carne é tentada nas distrações. O que parece ser parte da realidade muitas vezes pode corromper se o homem não mantiver consigo sempre em mente o propósito de se aproximar da Verdade, e para isso precisa se manter firme, mesmo no cansaço extremo ou na agitação do mundo, é preciso manter a seriedade acima de tudo e não perder de vista o senso das proporções, a ideia do que é realmente importante. 

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