sábado, 11 de novembro de 2023

A noite da despedida


I Feel You Linger In The Air, episódio 12

- Eu estou com medo Jom.
- Não fique, eu não fui embora ainda...
- Eu te amo muito Jom. Quero dizer isso porque posso não ter mais chances.
- Eu também... Eu também te amo Khun Yai!

Foi um diálogo simples, ambos estavam exaustos daquelas dias tensos, desde que o reflexo começou a sumir nos espelhos e que as fotografias ficaram superexpostas. Aqueles eram seus últimos momentos juntos, os últimos dias, as últimas horas? Nada ao certo, mas sabiam que logo iriam se separar, não havendo nada que pudessem fazer para impedir. Logo estariam separados, não por brigas de interesses familiares e nem tampouco pelo preconceito daquela sociedade, não. Estariam separados pelo tempo, por um século inteiro que se colocaria entre eles e que nada pode vencer ou convencer.

O abraço que dali se seguiu após o beijo, triste e apaixonado, foi justamente a manifestação daquele cansaço provocado pelo medo constante, pela insegurança que passava por eles o tempo todo, sem saber a que momento iriam se separar em definitivo. As mãos nas costas seguravam um ao outro, tudo o que eles tinham, tudo o que importava, naquele lugar, tentavam ser mais fortes que aquele destino cruel e incompreensível. 

E foi por isso que eles se entregaram aquela última noite.

De pé junto a cama que foi a testemunha silenciosa de um amor que ninguém mais o soube, que só ganhava forma e figura nas noites quando, à portas fechadas, o servo desconhecido e o jovem senhor em seu exílio auto infligido, foram se aproximando... Com ternura eles se beijaram, depois de um leve sorriso daquele garoto perdido. As mãos de Yai, vacilantes naquele abraço inseguro, agora estavam firmes, sem pressa, apenas queriam prolongar aquele momento pela eternidade, deslizando lentamente os botões da camisa de Jom que, não sabendo ainda como fora parar ali, naquele tempo, e nem como sairia, se entregava aquele que agora ganhara seu coração de todo, não querendo nunca perder aquele toque, gentil, delicado, cuidadoso e amoroso do seu senhor. 

As camisas caíram, pela última vez, antes que Jom se deitasse de olhos fechados sentindo o perfume da cama que prepararam para sua despedida, e Yai se aproximando lentamente, encaixou o rosto na curva do corpo do seu amado, cada beijo uma declaração, uma súplica angustiada pelo que havia entre eles. Cada beijo implorava que aquele momento se estendesse indefinidamente, que eles nunca se afastassem, que os corpos de ambos estivessem sempre juntos daquele jeito. 

Yai lentamente virou Jom para que eles ficassem de frente um para o outro. Ele novamente tornou a beijar o corpo do seu amor, descendo lentamente os lábios e depois, ainda com as mãos firmes, descia também as calças de Jom que, a essa altura, suspirava e se ocupava em registrar na memória cada pequenino detalhe daquela cena: o corpo de Yai ali a sua frente, os dois envoltos por um fino véu que recobria aquela cama enquanto o outro despia a si, e se aproximando, os olhos escuros, certos de duas coisas que fatalmente se anulavam. O amor deles era o que os fazia respirar e seu tempo juntos findava a cada minuto.

E foi aí que aquela cena, quando Yai se torna um com Jom, que não poderia ser descrita senão por um poeta que conseguisse descrever num livro inteiro a delicadeza das flores de Frangipani. E, enquanto seus corpos estavam inseparavelmente dentro um do outro, somente aquela noite conheceu toda a história que eles viveram: o primeiro encontro em que sentiram o coração palpitar sem explicação, a aproximação gentil de Yai, os medos de Jom perdido naquele tempo, os dois pouco a pouco ensinando ao outro a ter força e coragem para enfrentar os medos, as vozes pesadas que os impediam de viver as próprias vidas. 

Aquela história ficaria para sempre registrada no coração daqueles dois, perdida nas águas do tempo. Cada leve toque no rosto, cada olhar apaixonado, cada sorriso, cada declaração. Eles se entregaram aquela dança íntima, que era como aquela valsa que eles dançaram na festa onde seus amigos mais próximos abençoaram sua união, felizes porque eles tinham se encontrado, como se tivessem sido, desde a eternidade, destinados a ficarem juntos. E então aquela dança, aquele amor, os gemidos inefáveis de ambos, costurava cada uma daquelas lembranças, as tornava eternas até que, banhados em suor, as lágrimas irromperam entre sorrisos e um último beijo, não apaixonado lancinante, mas doce, derradeiro, tão fugaz quanto fora o tempo que ficaram juntos mas tão forte que nem mesmo o tempo apagaria completamente, nem mesmo se ofuscaria pela luz do sol que nascia naquela última manhã.

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