sábado, 18 de novembro de 2023

Sua tranquilidade

Calm as the Sea, Darren Thompson

Vim pensando em você no ônibus hoje, nada demais, nas coisas que falamos recentemente, o cansaço, as prioridades, ao mesmo tempo que a gente tá lutando por algo que quer (no seu caso) ou apenas lutando mesmo sem um objetivo muito claro em mente. Meu corpo meio pesado da semana cansativa e eu me recordo que, ontem a noite mesmo, pensava que largaria eu facilmente toda essa correria, toda a loucura, toda perspectiva futura, por um breve abraço seu, por poder sentir você novamente perto de mim...

Não queria multiplicar, mais do que já o faço normalmente, as minhas declarações... Quero ser mais sério, sem confundir as coisas com você mas, ontem quando estava extremamente cansado, ao te responder os meus dedos escreveram automaticamente te chamando de "meu amor." Acho que isso já diz tudo. 

Há então uma leve diferença entre o que, racionalmente, eu quero dizer e o que eu quero realmente, o que desejo de coração, e o que o meu coração deseja, que é estar completo de ti, que é estar contigo, entre amplexos amado.

Talvez porque a lembrança que tenho de você é daquela tranquilidade, seja quando caminhávamos no parque tranquilos tirando fotos ou no shopping agitado mas, em ambos, nada importava além das coisas que falávamos e, ali, se exprimia muito daquilo que entendemos no conceito escolástico da amizade: embora conversando o tempo todo nós não caímos nas conversas banais do cotidiano, falamos das coisas importantes com profundidade mas também com a candura da amizade. É assim que me lembro de você, e é nessa lembrança que me conforto, que coloco delicadamente o meu desejo de, ao fim de um dia, uma semana, um mês ou uma vida, como esse, eu possa recostar minha cabeça delicadamente no seu ombro, e descansar, e ser também um lugar descanso para você...

Tenho te observado sabia? Digo, silenciosamente eu vejo e admiro todo seu esforço, a sua luta incansável para conquistar algo, e eu, que não tenho nenhum desejo realmente meu, apenas observo de longe, quieto, torcendo que você tenha forças e não caia, e então eu percebo que pouco a pouco você fez nascer em mim um desejo. Logo eu, um homem que já perdeu toda e qualquer esperança ou vontade de viver, de repente me vi desejando ser alguém que pudesse te ajudar, que pudesse te abraçar no fim de dias tão cheios e pesados, que pudesse oferecer um ombro ou colo para que você pudesse, nos braços meus, descansar. 

Mas eu estou longe, e as minhas palavras, que são tudo que tenho além de meu amor, não podem te alcançar. Aliás elas são por muitas vezes tão confusas que o fazem entender errado... Além disso, ainda que estivesse do seu lado, sei que os meus braços não são o lugar para onde você quer voltar no fim dos dia, então, no fim das contas, tudo o que posso fazer mesmo é te observar e desejar que você tenha força suficiente para chegar ao fim da jornada e, observando a beleza do grande campo que atravessou, perceba quão bela foi a sua jornada. 

Uma vez mais você disse que me ama, supremo idílio ouvir isso, fazendo agitar dentro de mim tudo isso, e penso também, se não o escrever cada vez que sentir isso, ao invés de dizer a você, que esse sentimento se perca no tempo, que se marque apenas numa história tão profunda que ninguém mais a saiba jamais, ao mesmo tempo que penso também que qualquer diminuto defeito possa fazer elas sumirem daqui. Ficarão apenas essas palavras, retrato infiel e diminuto dos meus sentimentos, sendo verdadeiras, gravadas no coração eterno de Deus quando eu, voltar ao nada?

Uma vez mais você disse que me ama e, quase ao mesmo tempo, eu percebia que tinha feito você recordar um passado obscuro que, em contrapartida, de algum modo se parece externamente com o que eu desejo para nós, vendo então o meu próprio amor como algo que você rejeitaria por se parecer com seu passado. 

Não há salvação para o meu amor.

"Desejei desesperadamente ser tudo
Viver tudo
E acabei sendo nada
Uma casa assombrada."

(Aline Matsumoto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário