quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Buscando respostas

Moonlight Night. Meditation, 1876. Arkhip Kuindzhi

Jesus lhe respondeu: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça.” (Mt 8, 20)

Me deprimindo ainda com músicas especialmente escolhidas com essa finalidade. É uma manhã preguiçosa de sábado e, já desde ontem, eu não queria trabalhar, senão que queria apenas poder deitar e ficar ali indefinidamente. Ao dizer isso percebo ser isso um sinal de um episódio depressivo talvez não tão forte mas que já começa a indicar que vai piorar. Não gosto de colocar tudo o que sinto nas caixinhas maniqueistas do Transtorno Bipolar mas acho que se tornou um lugar comum intelectual confortável, mais fácil do que buscar enfrentar cada fase particularmente. 

Algumas perguntas feitas por uma amiga, no entanto, podem me ajudar e mergulhar um pouco mais fundo nessas questões.

Por qual razão eu quero chamar atenção? Qual sentimento que primeiro percebo quando penso nisso? Qual insatisfação eu percebo para sentir a necessidade de fazer isso? Qual objetivo eu quero alcançar? 

Ela se referia a alguns questionamentos que fiz outro dia a respeito de umas fotos que eu pretendia tirar e que causaram certo alvoroço ao meu redor, ocasionando uma reação um tanto quanto exagerada da minha parte em pensar que eu sou algo importante a ponto de que alguém se importaria comigo. Bom, vamos tentar responder...

Em princípio, quando penso nessa vontade que eu tenho, da sensualidade exacerbada, ao mesmo tempo da necessidade de chamar atenção, a primeira coisa que me vem a mente é a solidão, esse sentimento profundo, triste e amargo que sinto nesse exato momento. É um sentimento e uma voz que repete incessantemente que estou sozinho. E nem é apenas um sentimento, mas também uma constatação: em alguns dias penso em ir ao cinema, fazer compras ou simplesmente tomar um café, e me vejo sem opção, quem poderia convidar? A perspectiva de fazer isso sozinho, que é o que acabo fazendo sempre, me deixam deprimido. 

Sei bem que deveria aprender a gostar da minha própria companhia, mas isso não deveria ser algo feito de bom grado e não obrigado? Eu aproveito minha companhia quando escuto minhas músicas favoritas que ninguém suporta, assistindo as minhas séries, tomando vinho na varanda ou deitado com um livro qualquer, eu aproveito a minha companhia porque não tenho outra opção. E todos esses momentos me são preciosos mas, parece que sempre que quero falar com alguém, preciso recorrer a frialdade dessas páginas ou alguém que está longe. Sinto falta do abraço, do olhar caloroso, do toque nas mãos. 

E então essa solidão, sempre crescente e presente, me faz querer ter pessoas ao meu redor. E aquelas pessoas bonitas sabe, elas parecem ter sempre pessoas ao seu lado. Sei bem que elas podem ser solitárias também e que estar no meio de uma multidão não é, de maneira alguma, sinônimo de estar acompanhado mas, ao mesmo tempo, é mais fácil encontrar alguém ali do que na completa solidão. É mais fácil ali do que aqui, quando olho ao meu redor e tudo que vejo é a chuva que cai sem parar, a indiferença dos que me cercam, sem ter ninguém a quem me abrir verdadeiramente. 

Nem me refiro a solidão afetiva de não ter um companheiro, mas me vejo numa situação que custo a enxergar amigos, todos os dias faço viagens solitárias de casa ao trabalho e de volta para casa, quando vou a igreja apenas converso brevemente uma ou outra amenidade que nada significa também, não consigo criar laços de maneira alguma. 

E é nisso que penso quando me vêm essas imagens a mente, em conseguir me tornar popular, em ser aceito e, ainda que rodeado de estranhos, ao menos encontrar ali uma alma querida. Nisso a sensualidade, a beleza dos corpos que admiro, se tornam então um sonho doce, e distante, que penso que poderia me ajudar nesse intento. É um sonho mesmo, ver aqueles perfis de homens sarados sem camisa com dezenas de curtidas e muitos amigos, ainda que alguém ali se sinta solitário eu estou solitário de verdade. 

Me sinto não só insatisfeito com a situação como um todo, mas também com seus pontos particulares: com meu corpo, sem tempo, dinheiro e disposição para entrar na academia e melhorar esse aspecto, a constante cobrança em pensar que minha personalidade, bipolar e profundamente pessimista, afasta a todos quanto se aproximam de mim. Então, nesse cenário desértico o que desejo do profundo do meu coração é apenas não me sentir tão só e, por essa razão, atrair alguma atenção...

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