terça-feira, 7 de novembro de 2023

Da vida cansada e doente

"Às vezes, sentava-me, morto de cansaço, num banco, na borda de uma fonte, à beira da calçada; ouvia bater meu coração, limpava o suor da face, continuava meu trajeto, cheio de angústias mortais, cheio de vacilantes ânsias de viver." (Hermann Hesse)

Nem eu sei o que eu quero. Talvez dormir por mais dois dias, talvez se minha dor de cabeça parasse um pouco ou a alergia deixasse de incomodar, eu se ele finalmente me respondesse como eu quero, sem rir das brincadeiras em que falo sempre sério. Se ele finalmente correspondesse... Mas é isso que eu quero? É isso que me vai fazer feliz? Ou será que nem mesmo existe tal coisa? 

Passei por ele rapidamente hoje, e fiquei feliz pelo seu cumprimento rápido e de novo aquele sorriso discreto. Fico feliz com essas coisas mínimas. Mas aí retorno para cá e não consigo pensar em outra coisa que pudesse me fazer feliz. É patético, eu bem sei disso, e me distanciaria de qualquer um que tivesse a mesma atitude que eu. 

No entanto, incomodado com meu destino que parece querer que eu esteja sempre apenas doente ou cansado, como hoje que, depois de finalmente ter conseguido descansar ontem, me vejo atacado da alergia e incomodado pelo som alto e de péssimo gosto da minha irmã, além de uma dor de cabeça brutal que está quase me levando à loucura, eu ainda só consigo pensar neles. 

O primeiro está bem distante daqui, naquela terra vermelha e quente, mas fala comigo todos os dias e, sem dúvidas, é a pessoa que mais amo, mesmo que não corresponda da mesma forma. O outro, o dono desse sorriso tímido e simples, que me encara sem parar há mais de um ano e que eu ainda não sei se posso me aproximar de verdade. 

Talvez não devesse ser a minha maior preocupação durante uma crise alérgica tão aguda, mas ainda assim não posso deixar de me pensar neles como se fossem a minha ideia de naufrago. É apenas o amor que desejo nessa vida vazia e sem sentido de quem apenas vive cansado e doente. 

Meu corpo agora dói, minha cabeça está mais lenta e as pessoas continuam pedindo pela mesma rapidez de antes, claro, depressão ou uma grave crise respiratória não são motivos para diminuir o ritmo. E as imagens deles ainda assim aparecem na minha mente... 

Por fim, e em contrapartida, me recordo as palavras duras do meu professor que ecoam na minha alma e que me fazem sentir vergonha por ser tão fraco:

"Se você aceita o sofrimento com resignação e doçura, não como um castigo ou como uma injustiça cósmica mas simplesmente como um capítulo normal daquela parte do nosso destino que só Deus entende, acaba descobrindo que esse sofrimento, ainda que em si permaneça incompreensível, aumenta o seu realismo e a fortalece a sua maturidade. É a pretensão de entender tudo que nos leva a não entender nada." (Olavo de Carvalho, 2016)

Eu preciso disso, maturidade, pra enfrentar cada uma dessas crises como apenas parte dessa existência. Uma existência patética e incômoda, é verdade, mas como todas as outras, sem achar que isso é algum tipo de injustiça comigo particularmente, porque até ai me colocaria em mais importância que os outros, quando na verdade todos vivemos nessa terra como pó, e do pó viemos e ao pó voltaremos, sem nessa vida conseguirmos muito mais além disso. 

O que fazer então? Bom, tomar uma boa dose de álcool, um remédio pra alergia e outro para dor de cabeça e deitar, ouvindo uma boa música, e isso é tudo por hoje. Talvez seja tudo para toda a vida. Esse é o realismo que alcancei até aqui: a vida, pelo menos a vida terrena, não é mais do que isso. 

Queria dormir, mas os remédios demoravam a fazer efeito, o cheiro dos óleos não funcionava tampouco, a internet morreu em casa e no celular e a falta de paciência me fizeram me obrigar a deitar e esperar que passe, seja a alergia, o mau humor ou a vida. É professor, parece que ainda tenho muito o que aprender, perdoe-me a infantilidade mas a vida é um saco!

Nenhum comentário:

Postar um comentário