Eu quero a graça de um amor tranquilo, um que não seja
forçado, nem complicado, e que flua naturalmente.
Agora contemplo diante de meus olhos as folhas das oliveiras
pesadas pelas gotas de água da chuva que caiu durante a noite. As gotículas
refletem as cores pálidas da paisagem, maltratada pelo vento e reconfortada
pelo frescor das águas que se opõem a opressão dos raios do astro rei. É uma
bela visão.
A brisa leve faz as gotas caírem no chão, e numa fração de segundo,
enquanto flutuam no ar antes de se chocarem com as pedras, brilham uma última
vez, gravando no meu coração a mensagem do seu último suspiro.
Enquanto dormíamos as águas do céu precipitaram-se por sobre
as folhinhas pequenas e esmeraldinas para beijá-las, e não se incomodaram em
curvarem-se e descerem do céu para encontrar os lábios de suas amadas. O
silêncio que cobriu a terra após a torrente divina cantou as folhas o doce hino
do amor, e os olhos humanos que o contemplam agora o grava no muro da história
para todo o sempre.
O céu está cinza, mas não triste, pois não compartilho da
visão de que um belo dia seja um dia claro. Um belo dia é um dia cinza, que me
recorda a palidez daquele que habita em meu coração. Um belo dia é um dia de
abraços, de sorrisos, de troca de olhares, de um contato tímido, mas de entrega
total, como o das gotas as folhas. Quantas histórias de amor numa oliveira!
Como fugir a esta visão de amor da natureza? Como evitar as
lágrimas ao contemplar as águas do céu beijarem as folhas do chão? A visão dos
amantes traz a alma a vontade de também ser amante.
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