segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Sem mim

Me procurou para falar sobre aquilo que eu não queria ouvir. 

Minha sentença de morte. 

Tive de fugir para os recônditos escuros do meu coração, percorrendo a secreta escada disfarçada. Tive buscar refúgio nos resquícios de sanidade e equilíbrio que haviam em mim e, não sem a ajuda de altas doses de benzodiazepínicos, consegui impedir esconder dos que me cercavam as lágrimas que brotavam da minha alma. 

Não preciso dizer que meu medo se cumpriu, afinal já havia se cumprido há muito tempo. Mas esse medo não era motivado pelo que pensava de mim, ou pelo o que os outros pensavam, que estivesse apaixonado por você. Não. É apenas a preocupação de uma pessoa que te viu no seu pior momento, tão destruído que mal poderia dizer-se ter forma humana. E ver que sente vontade de seguir pelo mesmo caminho, ainda que diga a si mesmo que não quer, é como perceber que nada do que foi dito, vivido e aprendido valeu de alguma coisa. Minha preocupação é com a destruição iminente de se aproximar de uma pessoa que, embora de voz doce, tem a capacidade de deixar um rastro de destruição por onde quer que passe. 

Me perguntou sobre os motivos da minha ausência premeditada. 

Não quis responder.

Minha vontade de sumir é constante. Não mais quero me incomodar com a ignorância e irresponsabilidade daqueles que me cercam.  Não quero carregar sozinho o peso de fazer tudo e ainda ouvir reclamações e lamúrias. O que faço, faço por amor, mas parece que sou o único a fazer assim. Por isso talvez seja melhor deixar que façam as coisas da forma que queiram, sem interferir com minha mania perfeccionista de fazer o certo da melhor forma, seja a coisa correta a se fazer, já que meu esforço atual tem sido apenas motivo de estorvo para com aqueles que deveriam ser gratos para o que faço.

Eu escolho o que vai ser cantado nas nossas apresentações. Preparo as letras, as cifras, as adaptações, envio com antecedência as musicas a serem ensaiadas, para no dia do ensaio dizerem que nunca ouviram. Cuido dos uniformes, dos materiais, enfim, e os outros apenas precisam ouvir as musicas e aprender.  Ainda assim reclamam das musicas, mesmo sem indicarem musicas melhores, não querem usar os uniformes, reclamam dos arranjos, mas não apresentam solução melhor.

Eu não vou atrás, não vou reclamar, pois sei que apenas seria colocado como dramático ou exagerado. Apenas me afastarei. Se minha ausência for sentida, é sinal de que o que faço é importante, do contrário, é bom que sigam caminho sem mim. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário