terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Diálogo sobre a dor


- Você está cansado?

- Não dos outros. 

Eu fiquei triste por tudo que aconteceu. 

As pessoas foram sempre as mesmas na paróquia. Pessoas que encontrei, e que me machucaram, cê sabe de quem tô falando. 

Grandes e únicos amigos que perdi. Pessoas incríveis que conheci, perdi também.

- Saquei. 

Bom, acho q não tenho resposta pra isso, até porquê ainda to tentando lidar com os que se foram também. Uma pessoa me disse que quando alguém se vai, abre espaço pra outra chegar, e penso que seja bem verdade, mas ainda não consegui entender direito o que isso quer dizer. Não sei ao certo, a cada dia entendo menos e olha que eu tenho entendido umas coisas bem complicadas, mas isso não!

- Pois é, Parece fácil, mas não é. 

Nossa e é tão difícil tu pensa assim: poxa, eu tinha tudo, e de repente.... puff! Eu fico procurando milhões de erros que explique o porquê tudo se foi. Sinto que isso alivia a dor de saber que perdi por conta de.... não sei. E acabo colocando tudo em cima de mim. Me culpando...

- Será q tem mesmo um culpado? Pois me parece que tudo isso tá tão acima da capacidade de cada um que não poderia ser culpa de alguém

-Eu realmente não sei .
Eu me culpo. Me culpo por não ter valorizado, não ter regado

- Tudo bem, mas ainda que seja culpa de alguém, não mudaria o quê já se passou, mas acredito q valorizar agora, regar agora, possa dar resultado. Ainda que se diga "não restou nada para valorizar" algo tem de aparecer, senão não haveria razão de ainda estar aqui!
  
- A lembrança daquilo que foi.

De lembranças fantásticas.

E querendo ou não, um dia as coisas mudam, pessoas mudam. Até sem perceber nós mesmos mudamos

- As coisas estão mudando o tempo todo, por isso acho que não seja culpa de um ou outro, não temos controle sobre nada, e isso nos desespera, sequer podemos controlar uma folha que cai da árvore, quanto mais nossa vida.

- Isso me lembrou um episódio do Kung Fu panda, quando o mestre Shifu tá conversando com o mestre Oogway em baixo do pé de pêssego.

- A sabedoria chinesa é prodigiosa; Acho que daquela lição podemos aprender que as mudanças vão sempre acontecer, mas cabe a nós viver com elas, e isso pode ser viver com culpa e dúvida, ou ainda tentar sempre seguir em frente, não sei ao certo, mas me incomoda imaginar que estou parado


- Saber que um dia aquilo tudo aparece e acontece de uma forma que nem vemos, da mesma forma que aconteceu antes...

- Deixa a gente tonto né? Com a constatação de não conseguir deter ou sequer compreender.

- Tonto demais.

- Ja te contei a história do dilema do ouriço né? Que para sobreviver ao frio, o ouriço precisa aprender a suportar a dor que os espinhos de outro ouriço causa nele, e ter noção de que ele também causa dor no outro; eu passei a me preocupar mais com o que digo e faço desde que entendi isso, e hoje geralmente fico calado e deixo passar muita coisa por isso, pois são só espinhos

- Nunca me disse isso. Mas é uma ótima sabedoria.

- Ser indivíduo é causar e sentir dor, não acho que tenha como fugir disso

- É ganhar e dar "não"!

- Acho que é bem por aí mesmo, já notou que o "não" é o limite de uma consciência? É  o que separa a sua vontade da vontade do outro,  é o que causa dor.

- É não aceitar o momento, o querer, o pensamento do outro. E até mesmo não se permitir mudar.

- Isso.

- Eu acho a consciência uma grande droga, não sei quem foi que disse que "o inferno são os outros"!

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