segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Folhas

"Perdoa-me, folha seca, não posso cuidar de ti. 
Vim para amar neste mundo e até do amor me perdi." 
(Cecília Meireles)

Um gesto singelo, um toque de mãos, mas com um significado tão profundo pra mim. Era noite, e a brisa fria acariciava meu rosto, mas meu coração não me permitia que me concentrasse em mais nada que não fosse o filho do sol ao meu lado. 

Aquele jovem de corpo quente, moreno do sol, estendeu a mão delicadamente sobre a minha, e depositou sobre ela as pequenas folhas de uma plantinha que ao redor de nós crescia. 

Foi como se, naquelas folhas, me entregasse seu coração, e fizesse uma declaração velada de seu carinho. Foi como se, derramando em minhas mãos aquelas folhinhas verdes, declarasse digna a esperança que havia em meu coração.

No dia seguinte, quando olhei aquelas folhas sob a luz do amanhecer, o sol as pintou com um verde tão vivo, tão lindo, que me emocionei novamente, e com lágrimas aos olhos as guardei comigo. Foi como se, naquele momento, ele com seu gesto tivesse iluminado meu coração, e me tingido com os belos tons do astro rei.

Agora, semanas depois, eu olho para essas folhas secas, e me vejo em cada uma delas. Foram símbolo da vida e da esperança, mas não brilham com a mesma força de antes. Agora se encontram ressequidas, longe da árvore que lhe concedia a vida.  Me entrego as lágrimas ao ver essas folhas secas, e com isso notar o quanto se tornou seco o meu coração, outrora verde como uma esmeralda iluminada pelo sol.

Também me sinto sem vida, ressequido, sem o brilho que tinha ao estar ao lado daquele filho do sol... 

Também olhando aquelas folhas eu sinto as lágrimas virem ao meu rosto. Como pode um gesto tão bobo, significar tanto para mim? 

Foi como se, naquelas folhas, me entregasse seu coração, e fizesse uma declaração velada de seu carinho. Foi como se, derramando em minhas mãos aquelas folhinhas verdes, declarasse digna a esperança que havia em meu coração.

Mas não era nada disso. As folhas não eram símbolo de esperança ou carinho, nem tampouco existiam para encorajar essa mesma esperança que brotava em meu coração. As folhas eram apenas folhas que, como eu, foram arrancadas e ressequidas. 

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