terça-feira, 19 de maio de 2020

Par


Tenho me sentido cansado, e incapaz de me aproximar de alguém de verdade. Me sinto tão exaurido por ter abraçado pessoas sem amor que já não tenho coragem de abraçar senão com uma desconfiança que se interpõe a nós, senão sem que me entregue. 

A verdade é que venho lutando para acreditar, mas parece que a capacidade de confiar no outro se extinguiu. Aquele homem que fechava os olhos e caia livremente nos braços de todos que diziam me amar não existe mais. O que digo, digo de caso pensado, o que não digo também o faço. A humanidade perdeu toda esperança que um dia eu tive. 

Parece que de tanto abraçar cactos eu me tornei cheio de espinhos. As pessoas já nãos e aproximam senão quando querem pedir alguma coisa. Eu, por outro lado, tento não pedir nada a ninguém, coisa que minha fraqueza ainda torna difícil. 

E eu não quero acreditar, porque eu sei que, se acreditar, estarei me dispondo a sofrer mais uma vez, a confundir espinhos com rosas, desprezo com afeto, a ver amor onde não há mais do que desprezo. Isso porque nem todas as pessoas tem dentro de sim a vontade, a capacidade ou a disponibilidade, de amor o outro, de entregar-se, de doar-se. Muitos apenas conseguem amar a si próprios, sendo incapazes de amar o outro. Tenho me tornado um desses, com a diferença que também sou incapaz de me amar, senão que me odeio a todo instante. 

Mas eu não queria escrever sobre algo triste, por isso fiquei dias sem escrever, mas se não falar sobre a tristeza eu falarei sobre o quê? É sobre o nada que eu tenho profundidades, e não alegria senão como uma suspensão fugaz da dor e do desespero. Minha alegria não é positiva, senão que defini-se apenas pela ausência de dor, não é algo que eu já tenha sentido efetivamente, ou que me lembre de ter sentido. Como falar sobre algo que não se conhece? 

Já me disseram que meu discurso é de alguém que nunca foi amado, que não conhece o amor, e eu não discordo de maneira alguma. Sinto como se falasse de algo tão abstrato e tão elevado que sequer posso compreender a não ser por analogias tão esparsas que apenas me dão uma brevíssima antevisão do que se trata. Eu não conheço o amor, apenas conheço aquilo que sai de mim de bom grado, aquela entrega e aquela doação que, no entanto, nunca encontrou par por onde andou.

Um par como aqueles das lakorns e doramas que eu assisto,  como Ae e Pete, de Love By Chance, que se entendem e se completam em seu oposto. Ou como Dean e Pharm de Until We Meet Again que se apoiam e se amam com tanta força que foram capazes de superar até mesmo a morte para ficarem juntos. Ou Tharn e Type que depois de tantas brigas compreenderam que o amor entre eles poderia sarar as feridas que estavam abertas em ambos. É disso que eu estou falando, desses encontros que acontecem algumas poucas vezes no universo, que mudam completamente o eixo de nossas existência, um encontro que chega inesperadamente e muda tudo ao nosso redor. É disso que eu estou falando. Algo que me parece tão distante e impossível que só podia existir mesmo nas cenas feitas para nos levar a acreditar num amor tão distante como esse, enquanto a única experiência real que temos é a da completa solidão, ao contemplar a lua num dia frio, sozinho do lado de fora de casa. 

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