segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Talvez

Em alguns dias a gente ganha e em outros dias a gente perde. No meu caso os últimos numa frequência muito maior que os primeiros. Ontem a noite eu me olhei no espelho e pensei "eu sou uma grande gostosa!" e hoje, não muito diferente de ontem, eu e me olhei e pensei "devia jogar fora esse espelho."

Tem dias que a gente ganha e tem dias que a gente perde. Há dias que eu consigo passar várias horas atento as mais sutis explicações de filosofias tão complicadas que a grande maioria das pessoas sequer conseguiria imaginar que existem. E há dias, today, que eu durmo depois de alguns minutos e, quando pareço acordar, vagueio para qualquer outro lugar ou penso no corpo magro e no sorriso de qualquer rapaz, exceto no que deveria prestar atenção realmente. 

Me sinto um completo idiota. Penso na voz do meu professor, explicando algo sobre Louis Lavelle e a filosofia da consciência, e me deparo com a imensa diferença entre nós, ignorando o fato de que ele estuda há pelo menos 50 anos há mais do que eu, me culpo por minha inferioridade do mesmo jeito. Olho para as mensagens ignoradas do meu celular, parece que ninguém tem muito interesse nas propostas que faço ou nos observações que tenho. Do mesmo jeito eu penso nos meus amigos, até os mais inveterados solteiros, e como todos ainda têm com quem conversar todos os dias, trocando flertes e sacanagens, enquanto eu coleciono um longa lista de fracassos amorosos, a grande maioria resumida em amores platônicos que sequer chegaram a perceber minha existência e, os outros, onde caí na famosa friendzone, já que aparentemente sou melhor amigo do que amante. Termino quase sempre aconselhando os meninos por quem me apaixono sobre como eles podem se aproximar das pessoas por quem eles estão apaixonados (não consigo mensurar o quão patético isso é). Ou talvez não seja bom em nenhum dos dois, já que muitos dos meus amigos ultimamente também decidiram ir embora. Pois é. 

Acho que na verdade todos os dias são dias de derrota, o que muda é que em alguns deles estamos mais ou menos conscientes dessas derrotas. E hoje, meu caro amigo, eu estou todo trabalhado na derrota. Infeliz e descontente com cada mínimo aspecto da minha vida. Acho que talvez exceto meu cabelo, não tá do jeito que eu queria mas até que tá bonitinho. De resto, desde as minhas unhas manchadas de esmalte preto descascado até os currículos que deveria ter enviado meses atrás e que não o fiz por completa indolência e um ímpeto de torpor depressivo paralisante. É, tem dias estranhos. 

O calor é um incômodo, e me incomodo por estar incomodado com o calor, pois penso que a preocupação demasiada com algo simples como o clima é típico de um intelecto mediano, e quando fico tão suscetível a mudanças de humor por causa dessa quentura infernal é claramente uma declaração de minha inépcia intelectual. 

Sem paciência para as crianças correndo ou para as conversas em voz alta. Gostei de ter ficado algumas horas na beira do lago, vendo a luz refletida no espelho d'água negro, a marola das pequenas embarcações. É, foi uma coisa boa. Mas queria ter terminado a noite abraçado com ele e não simplesmente sorrindo das nossas desgraças no carro com uma ironia e auto piedade quase mórbida. 

Mas eu juro que tinha algo importante pra falar além de simplesmente ficar reclamando em, mais um, texto. Ou talvez não. 

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