sábado, 25 de setembro de 2021

Do Interior

Estou agora do lado da janela do meu quarto, sentindo no meu pescoço a brisa mais fresca dos últimos dois meses e, com o pouquinho de chuva dessa tarde, já sinto uma melhora no respirar devida a elevação da umidade. É uma melhora significativa, é verdade, e eu queria conseguir aproveitar melhor, queria respirar fundo e sentir a brisa fresca me revigorar, mas não é bem isso que acontece. Acabei de voltar para uma crise depressiva, o que significa que se foi toda minha disposição até para as coisas mais banais. Até escrever essas poucas linhas me exige um esforço fora do normal. Uma vez mais parece que eu recebi uma dose de anestesia na veia, me entorpecendo, me fazendo ver o mundo sem cor, triste, e sem vontade de fazer nada, ficando apenas uma mente mais ou menos ativa, repleta de culpas e pesadelos, pensamentos ruins de todo tipo a me assombrar. E eu penso no emprego que deveria ter, e penso nas dificuldades, e penso na força que precisaria dispensar pra entregar um currículo ou levantar de manhã cedo, e penso nas pessoas que fazem isso todos os dias mas isso não me faz ter forças, eu fico aqui, parado, no escuro, sem conseguir me levantar nem mesmo pra comer ou tomar banho, apenas esperando que algum força me surja de novo, milagrosamente, de algum lugar. 

Tirei uma foto, despretensioso, mas ela não revela o que se passa comigo no interior. A foto mente, eu poderia sorrir até se quisesse, mas seria mentira, uma farsa, e eu não sei mais o que posso fazer pra tirar de dentro de mim essa angústia que não passa nunca. Minha pele ainda brilha como resultado dos cuidados dos últimos dias, quando me sentia bem, mas meu olhar tem aquela opacidade da janela da alma, revelando que, no meu íntimo, estou na verdade morto. Como trazer à tona, senão por palavras, o que se passa num interior tão profundo? 

Queria ser capaz de voltar, a amar, a sentir, a ser. Ultimamente a sensação de estar vivo é apenas temporária, e eu sei que logo passará, com a chegada da próxima depressão. Mas estar vivo realmente, sem sentir uma sombra obscura por trás da minha cabeça, sem sentir algo espreitando meu coração, isso eu não sei mais o que é. Não sei mais o que é o coração bater mais rápido por gostar de alguém, agora só sinto o bater descompassado das decepções ou, pior ainda, nem isso, pois já espero pelo pior, e é isso que sempre recebo, não de alguém em especial mas da própria existência, seja a tristeza de acordar mais um dia ou de precisar me cansar pra dormir sem medo mais uma noite. E eu só queria sentir de novo alguma alegria genuína, sorrir de verdade, sem medo de ser abandonado no instante seguinte, sorrir, sabe, como há muito eu esqueci como se faz, e como eu nem sei se conseguirei um dia novamente. Não, apenas um pequeno acréscimo: o que mais se aproxima de um sorriso de verdade é o sorriso que eu dou nas histórias de amor, nas histórias que eu sonho viver, mesmo sabendo que nenhuma delas é real...

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