quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Terminar Sozinho


terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida—
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter um quarto.
…de manhã

eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores , médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi…
e você se vira
para o lado pra pegar o sol
nas costas e não
direto nos olhos.

Charles Bukowski, "poema nos meus 43 anos".

Gosto muito como o velho Bukowski consegue descrever como me sinto com uma força e uma crueza impressionante. Me pergunto se as minhas palavras também carregam consigo essa mesma potência sugestiva, essa mesma dose de dor, de angústia de alguém que foi massacrado pela vida, alguém tão judiado que já não enxerga mais o amanhã senão de outro modo que o olhar pessimista de que será mais um dia para morrer e contemplar o mundo de dentro do próprio túmulo, mas sem ser enterrado e, sem deixar de sentir o peso horrendo de ser quando já não se quer ser nada, quando não suporta mais nada. 

Eu só queria conseguir descrever o gosto amargo e levemente adocicado que estas palavras despertam em mim. Se a morte tem um gosto eu tenho certeza que é parecido com isso, o gosto do fim mas que, no meu caso, apenas se prenuncia como uma esperança de que tudo isso um dia finalmente acabe, toda essa dor, esse medo de todas as noites, a angústia de não conseguir ser o que se espera que seja, de não conseguir cumprir a mais elementar missão: viver.

E é nessa dicotomia que enfrento cada nascer do sol que toca minhas costas pela manhã: esperar pela morte com medo e ânsia por ela. Com medo de que seja dolorida mas, ao mesmo tempo, na esperança que seja meu único alento na existência. 

Me sinto também culpado, por sentir raiva e apego a minha vida, por amaldiçoá-la ao mesmo tempo que me seguro a ela, que me prendo, que tenho medo de ir, que sou tomado pelo pavor da incerteza do que vem depois...

E então vem o desânimo provocado por esses dias de calor, em que a melancolia se misturam com a fraqueza da carne para criar um ambiente absolutamente insuportável, onde vegetamos sob a forte luz de um carrasco que a tudo castiga com seus raios. 

É uma preguiça existencial que toma conta do ser, um não querer ser e ser por obrigação, nada mais que isso. O pensamento no mundo lá fora desperta apenas ânsia e um egoísta sentimento de querer continuar aqui dentro, longe de tudo e todos, mas ainda perto demais pra sentir o cheiro podre da alma corrupta, ou esta é minha própria alma, já nem sei dizer, há tanto tempo aqui sozinho, onde provavelmente se dará o meu fim. 

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