quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Esperar Pela Brisa

Eu sempre ofereço o meu melhor, mesmo que não seja suficiente, mesmo que o outro prefira me deixar e me trocar, e tá tudo bem, eu sei que o meu melhor não é bom o bastante. Sei que os outros podem oferecer bem mais do que eu, que eles não mudam de humor tão rapidamente, não perdem as forças no dia dos compromissos, não tem pensamentos suicidas no meio de reuniões de amigos, eu sei que os outros são melhor companhia do que eu. E é por isso que eu faço o meu melhor, que eu tento oferecer o pouco que tenho, tento deixar os outros à vontade, fazê-los sorrir de algum modo, ou pelo menos proporcionar o ambiente em que eles possam se sentir bem. Mas eu sei bem, que isso não é suficiente. Eu não consigo beber exageradamente, não consigo me divertir tanto com barulho, não consigo ser a companhia que esperam, mas isso é o que eu tenho, o que eu sou, o que eu posso oferecer.

Consegue perceber a melancolia dessas palavras? Sou um homem que fica no quarto, fugindo da luz do sol, observando as pessoas passarem rapidamente sem olharem pra mim, tanta gente passa e eu estou só. Consciente de que um bipolar é instável demais pra fazer as pessoas ficarem. Os outros, eles cativam, eles fazem os outros querer sua companhia, fazem você se sentir bem, eu apenas afasto as pessoas, até as mais próximas que, pouco a pouco, descobrem que não precisam lidar com toda minha tristeza, com a minha angústia quase palpável, com minha indisposição constante, minha pessimista forma de ver a vida, o niilismo que transborda de meus olhos e lábios em murmúrios inaudíveis ao responder a pergunta "você está bem?", a única pergunta a qual me recuso a responder de verdade. 

X

Tento recorrer ao meu lado religioso, tão latente, e isso me ajuda a controlar o pânico crescente que, no meu peito, tende a me sufocar desde a tarde. Minha mente lentamente repousa nos conselhos do meu confessor, enquanto mergulha numa letargia meio demente, como que anestesiando a dor, ou o horror, o monstro que meu coração tenta suprimir, mas que deseja a todo custo gritar loucamente. 

Mas eu já não aguento mais, todos os dias precisar de uma fuga para o pânico, que me ameaça nunca deixar dormir. Não aguento mais procurar séries pra assistir até me cansar e dormir de cansaço, não aguento mais esperar que outros me salvem dos monstros que habitam os cantos mais remotos da minha mente distorcida. 

Só queria um pouco de tranquilidade, não ter medo o tempo todo, não sentir que, a qualquer momento alguém ao meu lado, ou eu mesmo irei morrer, que a qualquer momento ficarei sozinho, deixado a própria sorte.  É um medo bobo, mas me assola, me mantém paralisado, me destrói. 

Queria andar um pouco, sentir a brisa fresca em meu rosto, deixar que os pensamentos ruins sigam para longe como as folham seguem, sem rumo, sem o poder de me assustar dessa maneira. Só isso, brisa, leve e fresca. Sem medo, sem os horrores da crise de pânico, só a brisa amena que meus cabelos afaga, como beijos doces do amante, como os amplexos do amado.

 X

Foi uma tortura infindável, passar o dia acordado sem tomar remédios pra dormir. Foi horrível, me revirar de um lado pra outro sem o que fazer, sem perspectiva, sem ânimo pra nada mais. E tudo isso pra quê? Pra amanhã precisar viver tudo isso de novo? Todo dia é a mesma coisa, o mesmo suplício, e eu não tenho força pra quebrar o ciclo, não consigo me libertar dos grilhões pesados que me travam e me prendem. Eu não consigo, e só queria me ver livre, só queria sentir novamente a felicidade, que já há tanto abandonou meu ser que já não encontro-a senão que brevemente, nas histórias de amor que acompanho vez ou outra, momentos únicos em que sinto não mais do que o absoluto vazio. Foi um dia horrível, sóbrio, consciente, prestando atenção em cada fibra do meu corpo que se recusa a me obedecer, que se recusa a se mover, que se recusa a mostrar-se vivo. Talvez seja porque eu já não estou... E continuo a esperar pela brisa fresca. 

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