quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Sobre Amar


Hoje uma pessoa me disse que eu devia amar mais, enquanto ainda é tempo. Pensei um instante sobre isso e, logo depois, senti um gosto ruim à boca. 

Eu não consigo mais amar, onde antes eu era todo amor agora só há vazio, mais do mesmo vazio que me tornei. E eu não consigo mais amar porque o amor para mim tornou-se sinônimo de abandono. Quantas vezes eu amei, de todo coração, seja amigo ou amante, e fui trocado pela primeira mulher? Essa sensação, de solidão, de insuficiência, é só o que ficou agora.

Outra parte do amor tem para mim um significado diferente: sacrifício. E, muito embora, seja belo falar sobre sacrifício, não é nada bonito assistir assim. Quando falo de sacrifício eu penso na minha mãe, onde esse amor se personifica, mas vê-la se definhar por eu é algo que me enche de culpa e não de orgulho. Me sinto novamente vazio e incapaz de devolver tamanho amor. 

Por um lado então o amor que me abandonou, por outro o amor que eu nunca vou conseguir pagar. Nenhuma das duas definições me agrada, então o amor se tornou algo que eu temo, cujo pronunciar me traz a boca uma ânsia análoga a ânsia de um cardíaco. 

E se esse garoto de hoje, bonito e sorridente, me desse uma chance? O que eu teria a oferecer? Um homem que, aos 26 anos, ainda vive na casa dos pais, desequilibrado lutando contra a depressão e as crises de pânico de todas as noites. Que homem haveria de me querer? E por isso, se meu passado de amor foi solitário, meu futuro é igualmente vazio e sozinho.

Será que eu serei capaz de me entregar novamente, como fazia antes? Será que eu vou conseguir abrir meu coração de tal modo que sinta meu eu se expandir para cobrir uma outra existência além da minha própria? Será que conseguirei voltar a sentir o amor, mas não esse amor triste, que machuca, que causa ansiedade, mas o amor verdadeiro, aquele que preenche o vazio, que traz sentido as vidas que flutuam sem rumo?

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