domingo, 5 de setembro de 2021

Do que toca meu ser

Tem um elemento que todos os dias se apresenta a minha consciência: o desejo de inconsciência. Sempre que acordo a minha vontade mais latente é a de voltar a dormir e assim permanecer, até que algo aconteça, até que encontre algo que me dê razões suficientes pra permanecer acordado e atento ao mundo. E eu não quero, é tudo que não quero. 

Eu sempre digo, a mim, que não vou mais usar os remédios pra dormir, que já é suficiente, que é hora de me levantar e tomar alguma providência, mas eu sempre volto a eles, sempre volto a querer sentir a perda lenta da consciência, mergulhando lentamente num mar de sono profundo, longe da perspectiva de encarar um mundo sem futuro. 

Ficar acordado é sempre um saco, dormir é minha única fonte de refúgio e algum conforto nessa existência, ainda que a preço do meu fígado e sabe lá o que mais ta sendo prejudicado com o tanto de remédio que eu tomo...

Eu tentei, realmente tentei, buscar razões pra me manter de pé, pra me fazer agir, algo que me devolvesse o ânimo, um estímulo real, mas tudo foi em vão, é como se nada fosse capaz de tocar meu ser verdadeiramente. Não, um momento, quase nada. A melancolia, a desesperança, o desamor, essas coisas conseguem tocar meu ser, essas coisas conseguem me fazer reagir, seja por lágrimas ou pela contemplação catatônica do nada que há em meu ser, essas coisas são as únicas a tocar meu coração.

As experiências que provocam reações catárticas não surtem efeito em mim, tudo o que eu faço é ser um observador para os homens que expurgam nos divertimentos a sua própria dor e eu, no entanto, só consigo meu expurgo na palavra que, de algum modo, me cura da enfermidade que é existir e desesperar-se por existir buscando, nesse ínterim, um ser que eu não sei o que é ou como será? Vivo então a tatear no escuro, em desespero, por encontrar-me em algum lugar, de algum modo. 

Mas tudo o que eu encontro é a boçalidade, a infinita profundidade em que cai o homem na busca pelo seu ser, mas ao invés de ascender ao ser ele mergulha no lodaçal em forma de abismo que é o ser na cultura de hoje. O ser se apresenta em pequenez e dor, e nenhuma dessas alternativas me soa agradável, daí que só aumentam meu desespero que, para mim, tem o sentido da busca do ser por si mesmo, em detrimento de todas as outras coisas e outros seres. Ser é, nesse sentido, algo terrível, pois só é algo baixo ou dolorido, nunca o sendo feliz, plenamente feliz, sendo o bem maior absolutamente inalcançável para alguns homens, a exceção de alguns poucos bem aventurados, dentre os quais eu não me encontro, encontrando eu apenas o horror da existência em sua potencialidade crua.

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