terça-feira, 28 de setembro de 2021

Rainha

Não digo isso como desculpa, muito embora acabe sendo exatamente isso, mas se eu tivesse um pouco mais de disposição, se eu conseguisse um pouco mais de energia, eu tentaria novas missões: eu estudaria para ir para fora, talvez Tailândia, e estudaria lá, tentaria recomeçar e viver assim. Acontece que, pra alguém que há dias não consegue sair da cama, pensar em sair do país e ir para o outro lado do mundo, literalmente, é um sonho grande demais pra alguém tão medíocre. 

O mesmo que observo na minha realidade imediata. Eu já deveria trabalhar, cuidar da minha mãe ao invés de vê-la cuidando de mim. Os papéis já deveriam ter se invertido. Mas eu não consigo, não consigo sair da cama, quem dirá trabalhar. Mas não digo isso como desculpa, não, mas como a pura verdade. Quando o esforço é grande demais até pra uma atividade mais simples, como posso pensar em tomar as rédeas da minha vida e dar a ela um novo rumo? 

Só o que eu sei é que minha mãe merece, luxos dignos de uma rainha, para alguém que sempre se sacrificou para dar o melhor para mim e que, agora, dorme sentada de cansaço pela labuta diária, dentre ela, de cuidar do filho desequilibrado que não consegue manter seu humor tempo suficiente pra ser alguém e crescer. E ela continua tentando me fazer reagir, levantar, mas eu não consigo responder, não consigo reagir. Nem mesmo os livros, ao alcance das mãos, eu consigo tocar e abrir, como se pesassem o mesmo que uma barra de ferro. 

Também não mantenho pessoas, e penso naqueles muitos que andavam comigo anos atrás, e que agora sequer me cumprimentam direito. Amigos que disseram com todos as letras que seria melhor se nunca mais nos falássemos. Parece que estar incapaz de agir frente as situações que se apresentam a mim é algo corriqueiro na minha vida. Estar sozinho, ou melhor, ser deixado sozinho é, ao mesmo tempo, meu maior medo e minha sina, meu ciclo infernal, meu eterno retorno. 

E tudo isso me dá medo, mas não aquele medo que faz as pessoas seguirem em frente de qualquer jeito, num rompante de coragem insana, não, o meu medo é apenas paralisante, e ele vem infalivelmente toda as noites e, às vezes, durante o dia, e eu fico na cama, aparentemente sem reação mas, na realidade, vivendo uma tempestade pavorosa que me impede de seguir em frente tamanho o pavor que se coloca sobre mim. 

E eu, pobre, que farei, que patrono invocarei, quando tudo retorna ao nada? 

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