sábado, 11 de setembro de 2021

Sondagem e Valor

Não é nenhuma novidade que eu sempre venho aqui exorcizar os meus demônios por meio da palavra, expulsá-los de mim de algum e, mesmo relutante hoje pois, parece-me, que eles só estão esperando algo para saltar em cima de mim, me rodeando querendo me devorar, eu não consegui me manter distante, senão que quanto mais tento mais eles me paralisam o corpo, como num derrame, como uma verdadeira horda assassina me impedindo de fugir. 

Ainda assim uma investigação é proposta: a da origem dessa angústia que rende tantas palavras. Sei que não consigo chegar as origens primeiras da minha dor, uma vez que meu talento para essa investigação é limitadíssimo, mas posso sondar e recuar um pouco, encontrando algo das causas imediatas das minhas crises. 

Eu me sinto em pânico quando penso no futuro. Quando penso nas possibilidades de tudo que pode vir a dar errado. É aí que ansiedade se extrapola e se torna pânico. Isso porque eu sinto, ainda que incompletamente, na minha pele, a dor que os outros sentem na luta diária. Eu vejo as pessoas com fome, as pessoas com a incerteza de que chegarão ao amanhã, as pessoas incertas se voltarão a ver ou andar, e isso me enche de pesar, me faz tomar um pouco de sua dor, e é aí que eu entro em pânico, ao me colocar no lugar delas.

Esses pensamentos vêm geralmente à noite, quando a reflexão vem sem que ninguém peça, e quando o fluxo segue sua própria vontade, sem que eu tenha nenhum controle sobre eles. O que acontece então é uma torrente de absurdos que me assolam, me paralisam, me fazem pensar em toda sorte de futuros desgraçados possíveis. Me vejo sozinho, com fome, sem perspectiva de futuro, me vejo completamente destruído, sem nem mesmos as variações de humor que as vezes me oferecem algum tempo de alento. Eu imagino meus pais mortos, eu paralisado em cima de uma cama, a família reduzida aos frangalhos, eu imagino assassinatos a sangue frio, torturas, mais fome e mais abandono. E são esses pensamentos que povoam os meus pesadelos, ainda que esteja acordado, ainda que eles me impeçam de dormir, ainda que eles reduzam o meu corpo a uma massa disforme de carne, sangue e dor quando os músculos endurecem, a respiração falha e eu já não consigo mais pensar em outra coisa, somente nas cenas horrendas que algum demônio pinta em minha mente. 

X

A reflexão anterior foi interrompida por um forte ataque de pânico que eu tive e que demorou muito a passar e, ao seu fim, eu estava cansado demais para conseguir prosseguir ou fazer o que quer que fosse além de deitar e esperar as fortes dores passarem até finalmente dormir. Membros endurecidos, lábios retorcidos, dificuldade em respirar e, depois, a sensação de ter sido atropelado, simplesmente horrível. 

Hoje, minha reflexão é outra, é a de que busco alguém que nem sei se existe, alguém que queira a minha amizade e que deseje dividir comigo seus interesses, naquela concepção tomista da amizade como sendo o querer as mesmas coisas e recusar as mesmas coisas, idem velle idem nollem, alguém que partilhe dos mesmos valores e que, principalmente, não me troque por uma garota na primeira oportunidade, pois é isso que sempre acontece.

Os homens são incapazes de se controlar diante do sexo feminino, são escravos das mulheres, e isso é algo que não pode ser mudado. São escravos de seus desejos mais baixos.

Eu queria encontrar alguém que realmente caminhasse ao meu lado por querer, não que me cativasse mas depois revelasse estar apenas comigo por conveniência enquanto não encontra algo melhor. Assim eu sinto que minha amizade não vale nada, eu sinto que não valho nada, por isso tão dispensável e, justo por isso, sempre me sinto sozinho, observando meus amigos deslumbrados por mulheres que somente vão destruí-los enquanto eu ofereço minha sinceridade em troca de abandono. Lamentável. 

Eu tenho algum valor? Se sim, por qual razão eu continuo sozinho? Por qual motivo eu ainda sou trocado na primeira oportunidade por qualquer uma que desperte neles seus instintos mais primitivos. Talvez eu seja alguém que só serve de ponte para os outros, alguém que esteja realmente condenado a cem anos de solidão, sem uma segunda chance sobre a terra. 

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