terça-feira, 27 de dezembro de 2022

A morte das catedrais

Que eu sou apaixonado por coisas de beleza atemporal isso é fato. Sou fascinado pelas grandes sinfonias, pelas grandes telas e também pelas grandes igrejas, nas quais se desenrola o magnífico espetáculo da liturgia. É como um hábito portanto visitar e ver imagens das mais belas igrejas ao redor do mundo. No entanto, nos últimos tempos isso vem me deixando cada vez mais deprimido, pois quanto mais eu vejo as grandes igrejas eu me dou conta do quanto se perdeu a fé, apenas ao olhar para o que hoje se chama de igreja.

Os grandes prédios construídos e decorados seguindo minuciosamente as leis de proporção e do simbolismo deram lugar a verdadeiros galpões celebrativos. Caixas de concreto brancas onde se coloca a imagem mais barata que conseguiram achar, uma cruz que não se destaca muito e tudo bem. A beleza deu lugar ao meu simples e desprezível utilitarismo. As aberrações são de número infindável. Nenhuma proporção entre altar, nave e presbitério, esquecimento do sacrário em salas à parte que só deveriam ser usadas em igrejas muito grande que de fato fariam ele sumir no altar, ou o mesmo sacrário no canto e o homem no centro, invenções horrendas como aquele menino Jesus gigante que fizeram ou até mesmo belos elementos que não são corretamente bem aproveitados, como painéis grandes demais. Pegaram séculos da mais alta realização humana e jogaram no lixo, pintam o prédio de branco, colocam uns bancos desconfortáveis de mármore, uma mesa no meio e tá ótimo. Sem referência as pessoas dizem que está lindo, mas não está, elas não têm ideia do que seja uma igreja linda. 

Kant, e outros mais, transformou a religião num conjunto de preceitos morais porque existe como um imperativo categórico, uma forma bonita de dizer "porque sim", e então passou-se a moral (leia-se moral sexual) a ser a única preocupação do homem que a partir daí não mais deu importância aos demais aspectos que a sacralidade da arte poderia indicar. Até mesmo houve um certo resgate da espiritualidade, de um Deus que não habita templos de pedra mas que está no coração do homem, no entanto ao abolir toda a exterioridade nem mesmo no coração se pode achar o Deus porque sumiram com tudo que apontava para Ele. 

Nossas missas hoje parecem com qualquer coisa, shows de música sertaneja ou declamações de poesias bregas ou leituras de textos de autoajuda da mais baixa qualidade que chamam de homilia. As pessoas ainda sentem o ímpeto de buscar a Deus, que ainda se pode achar na Eucaristia, mas infelizmente tão soterrada de invenções e cafonices que até ela se tornou difícil de enxergar. 

Os antigos altares, que se erguiam apontando para o alto e conduziam a todos que entravam na igreja a olhar para o alto agora é apenas uma mesa ao redor da qual se reúnem as pessoas para cantarem músicas de qualidade questionável e saírem de lá "renovadas". Os retábulos foram abandonados, os paramentos simplificados, os vasos sagrados também, e então diante de toda essa pobreza tenta-se compensar completando o rito com coisas que agradam as pessoas, músicas sentimentais ou em ritmos familiares que deixam a igreja com uma cara disforme de carnaval fora de época ou show de sertanejo às 7h da manhã. 

O dinheiro dos fiéis, que poderia ser usado para fazer igrejas simples porém belas, é usado em projetos ousados, revolucionários. Basta visitar três igrejas de uma mesma cidade que tenham sido construídas nos últimos dez anos: não há nelas nada mais do que vestígios de arquitetura católica, em verdade não nelas nenhum elemento que indique uma unidade eclesial, muito pelo contrário, todas elas serviriam perfeitamente como qualquer outro estabelecimentos, desde museus de arte contemporâneas a repartições públicas. São as maiores invencionices possíveis e o povo que lute pra tentar achar algo de Deus em alguma delas. Espaços que poderiam ser aproveitados com belos altares, belos quadros e ícones, com adornos e liturgias com música de verdade e não uma cópia barata da música popular, nossas igrejas já não são mais igrejas. 

Morreram as catedrais que poderiam ser lidas como verdadeiras catequeses sem nunca esgotar seu significado. Ou melhor, as catedrais continuam lá, mas as novas igrejas nada a ver com elas. Não há mais simbolismo, o rito se resumiu a um ritualismo paupérrimo que nada, absolutamente nada, lembra uma liturgia cristã piedosa e capaz de levar os homens ao céu. 

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