quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Resenha - War of Y

Contém Spoilers!

Que a indústria do entretenimento não é nada fácil e glamorosa como vemos nas premiações e nos posts do Instagram já é algo que alguém com um pouco de bom senso poderia imaginar, mas a proposta de War of Y é justamente mostrar que esse ambiente pode ser ainda pior do que pensávamos. 

Somos convidados a acompanhar a história de vários rapazes que tentam ganhar a vida no meio BL, sejam iniciantes ou veteranos, e que precisam lidar com diversas dificuldades para se destacar nesse meio onde a imagem importa mais do que tudo. A série é dividida em quatro arcos interligados, os personagens todos se conhecem de algum modo e acabam influenciando a vida uns dos outros, mostrando também que é uma indústria relativamente pequena, onde a fama de um tem impacto direto sobre muitos outros, na frente e atrás das câmeras. 

Todos os arcos, no entanto, partem da mesma dificuldade: a tensão entre a vida real, a vida pública e as coisas que todos precisam fazer para alcançar o sucesso. E então temos uma longa série de intrigas, traições, vinganças e jogos psicológicos numa verdadeira guerra pelo estrelato. Somos apresentados a personagens humanos que possuem um lado ambicioso, que sufocam o orgulho e a honra em nome de oportunidades e que traem até mesmo seus colegas mais próximos. Também vemos como essa proximidade, aliada a constante pressão faz com que os artistas por vezes se relacionem em segredo, como forma de dar vasão a esses sentimentos aprisionados e porque um relacionamento público seria um problema para seus interesses profissionais, o que com certeza também gera vários problemas. 

Essa série foge então a todos os padrões que conhecemos justamente por mostrar o que seriam os podres dos BLs e como o que vemos nas séries pode ser muito diferente do que acontece nos bastidores, e muitos escândalos estão aí para nos mostrar isso. Muito embora a série apele para a malícia muitas vezes nada se torna inverossímil e qualquer um que já tenha acompanhado esses escândalos sabe que é perfeitamente possível que ali tenha muita verdade. 

A primeira história, New Ship, é sobre Pan e Nott (Seng WichaiBilly Patchanon, de Secret Crush on You). Pan é o tipo determinado, que está disposto a tudo para chegar ao estrelato já que, mesmo na segunda temporada de sua série ele ainda não está no topo da indústria, e deseja ser contratado por uma grande emissora. Ele e seu parceiro Nott costumam ter encontros de sexo casual, o que acaba por tornar as coisas complicadas quando os sentimentos parecem se misturar com os interesses de cada um. A força da atuação de Seng aqui é um destaque com um personagem que se vendeu completamente e se destruiu por uma imagem de perfeição, que ele vê destruída e incapaz de manter por muito tempo.

Gus e Bew (Gung KunpongKorn Kornnarat, de Y-Destiny) são um casal novato que acabou ganhando destaque após os escândalos envolvendo o casal do primeiro arco e, na sua história chamada War of Managers, vemos como os interesses dos empresários no sucesso dos seus artistas pode acabar contaminando a relação profissional e até mesmo criando uma relação fictícia dentro de uma relação já fictícia que é o fanservice. As reviravoltas desse arco são impressionantes e a temática do fanservice e o impacto que ele tem nos atores é recorrente em toda a série. 

O terceiro arco, Y Idol, é sobre Peak e Kla (Milk Natchanon Markpoom Phatsanan), dois novatos que participam de um reality para escolher os protagonistas de um novo BL mostram como essa construção de imagem é feita na indústria. Temas como a feminilidade em contraste com a masculinidade é usada para fortalecer a relação no fanservice e como os atores podem prejudicar uns aos outros para se darem bem é o gancho dessa parte. Vemos um Peak que é forçado a construir sua imagem de acordo com o que os outros querem ver, muitas vezes a base da mentira e da enganação, enquanto seus sentimentos são cada vez mais soterrados. 

Por fim, em Wife, temos Achi e Most (First PiyangkulTakizawa Toru, de Y-Destiny) num relacionamento confuso onde a parceria acabou se tornando um romance, com a problemática de que um dos dois namora uma garota, que também faz parte da série que eles estão gravando. Mais uma vez a malícia ganha palco para mostrar que a ganância pode fazer as pessoas machucarem as pessoas que elas mais amam pelo sucesso. Esse casal tem uma química sexual incrível, é absurdamente impressionante ver como eles ficam bem juntos. 

Girando em torno dessa construção de imagem perfeita que gera um peso enorme nos atores, em como a falsidade na frente das câmeras nas lives e eventos acaba se misturando com a vida privada e deformando a personalidade é assustadora. Os personagens se submetem a prostituição, fogem da família e fingem amizade quando não se suportam. A proposta é uma boa dose de desmistificação da perfeição que costumamos ver e ter ares de realidade pelas inúmeras participações especiais, onde atores famosos aparecem interpretando eles mesmos, misturando então realidade e ficção (dentre os que aparecem estão Alonew, NetJames, SantaEarth, MaxNat e Nunew). 

A direção é boa e realmente somos transportados para um mundo onde tudo acontece muito rápido graças as redes sociais e os comentários aparecem o tempo todo na tela, tendo impacto direto na vida dos personagens e nas suas escolhas, bem como mostram a falta de privacidade e o medo constante a exposição que isso gera. Os artistas são cobrados pela perfeição o tempo todo e, quanto mais tentam, mais acabam se destruindo por isso, a tensão psicológica é constante e em todos os arcos tivemos momentos de grande força dramática. 

Abordando então temas como traição, ambição, prostituição, mentira e relacionamentos secretos a série busca limpar um pouco a imagem romantizada que temos desse mundo onde todos aparecem lindos o tempo e, depois de episódios de muita intensidade emocional, tentativa de suicídio e de cancelamento, a obra termina com "e se eu te dissesse que todas as histórias de War of Y são verdadeiras, você acreditaria?"

Nota: 09/10

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