segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Sobre o ano do recomeço


Estou tentando encontrar uma maneira de traduzir em palavras os sentimentos que estão inflamados no meu peito. Esta é aquela época do ano em que sempre começamos a pensar no que foi feito e no que queremos fazer. Eu particularmente acho piegas a ideia da retrospectiva sentimentalista mas algo próximo do espírito do exercício filosófico existencial do necrológio pode ser mais apropriado: trata-se de pensar no futuro como se ele já tivesse acontecido e, desse modo, como quem olha ao passado, traçar os planos profundos do ser como quem já os alcançou. Feito desse modo têm-se uma visão mais clara de quem queremos ser. 

Pois bem, ainda queima dentro de mim a chama do labor intelectual que tensiona buscar a Verdade na realidade que me circunda. Busco agora num lugar bem diferente de onde estava meses atrás, e os caminhos que faço diariamente são muito diferentes daqueles que fiz nos últimos anos. Mas apenas falar dessa transformação seria dar a ela um peso maior do que o devido, mas o certo é que a mudança de ares me permitiu criar uma maior defesa contra a banalidade do ambiente, corrompido e gasto que estava em Brasília, naquela terra vermelha, torrão nada amado. 

Como os numerosos filhos da Noite do meu adormecer e acordar também brota diariamente essa sede pelo conhecer, que nem tanto se expressa no ensinar mas que nela acaba por transbordar. Não tendo então quem me ouça o tempo todo, até porque não seria de tão grande proveito assim, eu simplesmente torno a ensinar a mim mesmo, ou melhor dizendo, me coloco aos pés do Mestre para que ele me ensine continuamente, seja pela voz dos meus professores ou pelas letras atemporais de escritores de todas as épocas que venho tendo contato.

Senti que meus olhos se abriram, não para experiências transcendentais ou em estados alterados de consciência como dizem os filhos da Nova Era, mas apenas agora conseguem ver que existe vida para fora daquelas paredes brancas e cheias de infiltração daqueles quartos onde vivi os últimos anos mergulhado em melancolia profunda, sem nunca ver a luz do dia e apenas ouvindo risos distantes, como quem se encontra afastado de uma grande festa. 

Depois de anos me senti vivo novamente. Não como os outros, aqueles lindos deuses que vejo nas séries, e que transpiram vitalidade, mas me sinto simplesmente existente, não é como se estivesse mais desaparecendo pouco a pouco, embora não seja uma existência divina como a deles, que serve de inspiração poética para as realizações existenciais, é uma existência humana, com seus limites e que deve ser encarada como quem caminha prestando atenção ao chão em que pisa mas também ao céu que se abre infinitamente por sobre a minha cabeça. 

Tenho conseguido apreciar mais da beleza também, além de um refúgio contra a banalidade do ambiente que agora se apresenta de outro modo, ela também se mostra como uma fonte inesgotável de inspiração para as aspirações, venho conseguindo ter mais ideias, muitas vezes pensar mais distante, ter novas leituras.

Minha expectativa passa por poucas coisas palpáveis, no entanto, claro que penso em modos de fazer as coisas que escrevo serem lidas por mais pessoas, ao mesmo tempo que isso aqui continua sendo um modo muito pessoal de me expressar, mas o meu único objetivo concreto é continuar aprendendo, continuar buscando conhecer, mais e mais, e tentar colocar de modo mais claro as questões que me são importantes, a saber, como o conhecimento, a beleza, a virtude enfim, as coisas que me podem abrir o futuro, qualquer que seja ele, estando eu agora aberto, outra diferença essencial entre o eu que hoje escreve e aquele que antes se fechava a toda perspectiva de futuro.

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