quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Cantando blues...

Eu estava um pouco bêbado depois da confraternização de fim de ano do trabalho. Bebemos champanhe e um vinho caro demais que eu nunca  conheceria em outra oportunidade e, por algum motivo, acabei ficando tonto com apenas algumas taças. Talvez o costume com vodka barata e energético tenha me deixado fraco pra algo um pouco mais refinado, de todo modo se puder ficar bêbado eu acho que tá tudo bem. 

Tinha um menino lindo no terminal de ônibus. Me lembro de pegar o mesmo que ele aos sábados mas nunca tínhamos cruzado na volta durante a semana, e agora sei que ele chega bem tarde em casa. Ele é realmente lindo, branco, magro, com um bumbum redondinho numa calça sempre apertada, os lábios grossos e rosados num rosto fino e olheiras fundas se destacando num rosto emoldurado por um cabelo preto brilhante, meio curto. Acho que ele nunca olhou para mim, e há várias semanas eu percebo a presença dele, com aquela indisposição geral de quem trabalha aos sábados.

É sempre assim, os homens bonitos todos namoram ou nem sequer notam a minha presença. Eu sou uma criatura de existência evanescente que passa despercebida por entre o corre corre da cidade grande, tanta gente passando e eu continuo só. 

Pensei nisso com uma força impressionante enquanto esperava pelo ônibus, o mundo girando um pouco por causa do álcool, cansado do dia de trabalho, e vendo alguns casais voltando pra casa, mãos dadas e sorriso no rosto, e o menino bonito do terminal sem nem sequer olhar pra mim. E assim é com ele, ou com o rapaz loiro que também encontro de vez em quando, ou com aquele novinho que mora no fim da rua e que acolita na missa na igreja desse quarteirão. Nenhum deles nota a minha presença. É como se eu nem sequer existisse e, em dias como esse, eu sinto realmente como se não existisse. Sendo apenas mais um. Um número qualquer aleatório e descartável na multidão. Mais um que poderia desaparecer. 

E enquanto isso, como um tesouro escondido enterrado, meu coração se inflama de amores, seja pelos belos rapazes ou por aqueles que já passaram na minha vida. Muito embora eu seja irrelevante a todos os outros eu sei que meu ser nunca deixará de existir, e eu viverei de modo perene, sem que ninguém se dê conta ou valorize meu amor. Pois bem, já que homem nenhum ouve minhas declarações, eu canto inspirado pelas musas os amores que se agitam no meu peito, infelizmente não com uma voz de sílfide perene, mas apenas cantando blues... 

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