sábado, 28 de outubro de 2023

Da minha paz

Se o que fiz está certo, e reconheceram que está certo. Se as pessoas dizem que eu sou simpático e sei conversar, se, mesmo solitário, elas ainda sorriem e falam ao meu redor e se falam que eu sei tratar bem, que eu consigo resolver os problemas com calma e tranquilidade... Se os elogios chegam até por terceiros... Por que então que três palavras e um sorriso sarcástico me tiram a paz desse jeito como se tivesse sido humilhado publicamente?

Mesmo quando me disponho a ajudar, a ser atencioso e a facilitar o pagamento que recebo é apenas a mais brutal ingratidão.

Me vem então algumas reflexões: a primeira do meu saudoso professor que me dizia que não devemos agir como se a ingratidão fosse a exceção ou algo que não deveria acontecer. Geralmente quando fazemos aquela pergunta "por que coisas ruins acontecem a pessoas boas?" partimos do pressuposto que não deveria ser assim mas, vendo a vida do próprio Cristo que, a despeito de tudo que ele fez ainda foi crucificado, é de se esperar que as coisas sejam assim mesmo. 

Talvez sejam algum tipo de força de compensação do universo, para manter o equilíbrio a positividade é repelida pela negatividade, mas isso é só um devaneio de um homem chateado. Outra coisa que me vem é a música do Pe Zezinho que tantas vezes escutei em que ele fala do perdão, ou a falta dele no caso, que é capaz de fazer perder a paz. 

E eu perdi a minha paz, tremia e chorava de dor e de raiva. E agora tenho fazer o movimento interno de conseguir dar o perdão, ainda que não me tenha sido pedido, de conseguir entender que, naquele momento, o ódio destilado era tudo que aquela pessoa tinha a oferecer e que talvez ela estivesse em maior sofrimento ainda. 

Sente comigo um pouco meu caro Augusto, já fazia algum tempo que não tomávamos um porre, enquanto olhamos o mundo cinza lá fora. Claro que já lhe disse isso várias vezes mas suas palavras continuam ecoando no meu peito vazio, e reverberam exatamente porque em toda essa mansão interior continuo tendo apenas a companhia da ingratidão, que nada vê do esforço e nada entende da bondade. 

Torno a repetir, é ridículo que me deixe abalar por coisas pequenas, três mínimas mas malditas palavras, enquanto ouvia tantas outras de elogios e agradecimentos. A gratidão devia ter mais força do que o ódio. Infelizmente eu fiquei olhando para o lado negativo, para os olhares de deboche e desprezo, mas estava cercado de pessoas que e ofereceram perspectivas incríveis para coisas que eu não conseguia ver ainda, ao mesmo tempo em que ficaram felizes com as minhas perspectivas também. Essas pessoas foram em número muito maior das negativas e, em muitos momentos, aqueles sorrisos, aqueles abraços, aquelas lágrimas que surgiam ao olhar aquelas peças, frutos de um processo de transformação intenso, uma prática alquímica mesmo, que se decompõe, se fixa e se finaliza, e essa finalização pode ser o início de uma nova transformação.  E tudo isso, essa leveza, sutileza, e a verdade das palavras e dos olhares brilhantes que vi, devem valer muito mais que aquelas palavras duras.

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