quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Do que compartilhamos

foto: Duong-Quan

Não sei bem como explicar isso, é sério, porque se trata de uma diferença tão profunda que, acho, dificilmente seria posta em palavras, tanto mais que, pelo visto, só eu a percebi. Trata-se da enorme diferença que há na nossa, minha e sua, percepção do belo que queremos para nós. 

De algum modo consigo apenas descrever o que vejo, e o que te mostro: são imagens de sombra e luz, que refletem uma intimidade pálida, uma pausa no ambiente caótico que nos cerca, por isso são imagens sempre íntimas, pessoais, particulares, iluminadas por uma luz artificial criada especialmente para registrar aquele momento, como se cada flash fosse justamente a captura de um sentimento, de um átimo que, não podendo ser repetido na loucura ao redor, se cristaliza numa imagem desses casais que, unidos num só, compartilham desses momentos. 

Por isso essas imagens refletem momentos que, normalmente, ninguém se importaria em mostrar. Como uma cueca lançada ao chão próxima das mãos que a tiraram, como um momento onde se escovam os dentes ou se banham depois de fazer amor, momentos que, entrecortados da realidade miserável e caótica, revelam que, por entre algumas paredes ainda existem pessoas que compartilham a intimidade, que compartilham momentos, que se sentem próximas...

E isso tudo se mostra em contrapartida aos momentos também únicos que você compartilha e que você mesmo registra. Muito embora esses momentos também sejam capturados pelo seu olhar, eles trazem consigo uma solitude, de certo modo, porque não são momentos compartilhados, são o seu olhar particular que você, depois, compartilha comigo ou que outros o fazem e você depois admira. Não consigo expressar exatamente essa parte, é aqui que se encontra aquela diferença que, de tão fundamental, é justamente a mais difícil de ser expressada.

E também há essa diferença que advém dessas imagens serem reflexo dos nossos próprios desejos. Os meus desses momentos de particular, do que é ao mesmo tempo artificial e tão profundamente íntimo que pode ser cristalizado, e do seu de admirar o que se vê externamente, e que então você faz esse movimento de internalizar em si e, eventualmente, compartilhar. 

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