sábado, 7 de outubro de 2023

Zero multiplicado

Não encontrei outra opção a não ser desdobrar aqui as emoções que tive ao primeiro episódio de Absolute Zero, a nova produção do Studio WabiSabi que, reconheço, mesmo tendo o Max Wanut de Until We Meet Again como protagonista e a direção do New Siwaj, não tinha despertado meu interesse completo e, como sempre, acabou me deixando sem palavras e em lágrimas logo nos primeiros minutos. 

Primeiramente eu continuo me surpreendendo muito com a direção do New Siwaj que conseguiu ter uma imagem própria nos seus trabalhos, de um modo intimista, equilibrando com as necessidades do mercado, como ele faz para as direções dos projetos da GMM TV e do próprio estúdio. A delicadeza da direção dele, bem como o espaço que ele deu para os atores assumidamente homossexuais no seu time enquanto as outras empresas apenas lucram com os BLs sem apoiar de verdade aqueles que têm dificuldade de se estabelecer no meio do entretenimento... Mas enfim, não é esse meu ponto, o fato é que eu gostei muito da construção mais lenta da narrativa, sendo uma série pra se ver com calma, longe do celular, e para acompanhar os personagens com a mesma paciência que se houve o coração de uma pessoa amada.

Mesmo falando assim, esse primeiro episódio não foi de modo algum arrastado, apenas mostrou a melancolia do protagonista e se acelerou lentamente conforme ele abria seu coração ao outro personagem. 

A cena do cinema foi então um divisor do episódio, quando Ongsa entrega o ingresso pro Suansoo depois de ter ficado ao lado dele numa sala de cinema quase vazia, e então, algumas cenas depois, quando ele entrega todos os ingressos que usou pra ir todos os dias na esperança de encontrar o outro, aquele choque que todos tivemos, nós e o personagem, como na sequência dos dois tomando sorvete e a clara declaração que o desconsertou, aquela emoção que transbordou em lágrimas... Tudo construído partindo da premissa da melancolia que lentamente é superada pela gentileza, pelo carinho... Me recordando aquele verso de São João da Cruz "Ferida de amor não se cura, senão com a presença e a figura." 

Suansoo estava sozinho depois da morte dos pais, por anos, se acostumou a ser só e até ia no cinema sozinho porque a presença das outras pessoas lhe dava a sensação de aplacar a solidão. E, de repente, aparece essa figura que é Ongsa que, sem violência, apenas com um leve sorriso doce e uma companhia silenciosa, consegue ir fazendo abrir o coração que havia se acostumado com a solidão. 

Também me emocionei com a relação do protagonista com o próprio nome, que significa zero e que, multiplicado por qualquer número continua sendo zero, o que mostra que ele acreditava que nunca poderia vir a superar esse estado de letargia. Essa construção toda em cinquenta minutos, somada a essa aura ao mesmo tempo quente porém vazia, as falas pontuais, o diálogo na sacada que já deu uma ideia do que vem adiante, já sabendo que a trama envolve viagem no tempo... Realmente um primeiro episódio emocionante. 

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