sábado, 13 de abril de 2019

Ao encontro

Num campo longe de toda gente uma marcha é ouvida pelos soldados, firmes em sua expedição. O inimigo se aproxima, e nem sequer terminamos de enterrar nossos mortos e estancar o sangue de nossos feridos. 

Qual será nosso destino? Que fim teremos nós que fomos traídos e massacrados, expulsos de nossa própria terra e lançados ao mundo como se não fôssemos mais do que a escória. O medo enrijece nossos ossos como o faz a água gelada do oceano. Já não podemos correr, e não nos resta outra opção senão de ficar e lutar, encarando nossos próprios horrores, que trajando suas pesadas armaduras marcham com as espadas e lanças sedentas por nossos sangues e nossas vísceras. 

O ar está impregnado do cheiro podre dos corpos de nossos companheiros caídos. Todos já sentem entre os lábios o gosto putrefato da morte iminente. Olhamos ao nosso redor, os olhares distantes e sem foco daqueles que já perderam a esperança e se agarram a última centelha de vida que tiveram antes daquela barbárie. Recordam-se de suas famílias, mulheres e filhos que deixaram à mercê da própria sorte, a mesma sorte que os levou até ali? Teriam seus filhos um fim mais digno do que aqueles que serão enterrados na lama de um outeiro desconhecido? 

De pé eles vislumbram o despontar de seus inimigos. Não há outra coisa a se fazer além de empunhar bravamente mais uma vez as suas armas já sujas de sangue. As mãos protestam violentamente em empunhar novamente as espadas, os ferimentos nas palmas estão ainda abertos. A cabeça zuni num grito agudo, como se a própria morte cantasse em seu leito. A voz falha, a respiração se torna entrecortada. O sangue ressequido oxidando a armadura. De algum lugar um urro os faz acordar do torpor em que mergulharam. Não há tempo a perder, é preciso enfrentar o inimigo! É preciso correr ao encontro da morte!

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