sábado, 13 de abril de 2019

Como entrar no coração

Ironicamente, quando lidamos com pessoas, esperamos delas comportamento justamente contrários à sua condição humana. Esperamos que ignoram sua própria história, suas próprias lutas, em razão de quem somos, de nossas próprias histórias e lutas. 

Não consigo ainda me abrir completamente a novas experiências, pois ainda estou marcado das anteriores, e ainda assim desejo que aqueles que passaram por experiências tão profundas quanto o façam. É injusto, comigo e com eles. É injusto quando critico que algumas pessoas não conseguem superar, quando eu mesmo não consigo, quando eu mesmo me vejo tão maltratado e humilhado ainda em situações que nada deveriam significar para mim.

As pessoas não são páginas em branco, ainda que eu queira nelas escrever os meus poemas. Não tenho o direito de desejar que ignorem suas dores para que eu possa pintar o que nelas bem entender, assim como não posso permitir que o façam comigo. 

Nosso coração é nosso porto seguro, um lugar que só mostramos a quem se prova digno de ali pisar. Nem todos tem acesso. Sentimos, as vezes, o desejo de rasgar esses corações e entrar a força. Bestialidade, destruir a casa em que se quer morar. 

Embarcamos então na luta por conquistar um espaço, por convencer de que  nos deixem entrar, de que nos deixem ver aquela imagem que, estando no lugar mais seguro de nossas almas, só mostramos a nós mesmos e a alguns poucos eleitos.

Como então entrar no reduto protegido com armas, naquele lugar onde apenas entram quem convidamos, e que ainda assim, apenas com muitas ressalvas ali permanecem? Como conquistar o direito de ver aquilo que costumeiramente não mostram a mais ninguém? Como ser aquele em quem confiam e se entregam, quando eu mesmo vejo que não posso confiar e me entregar a mais ninguém? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário