segunda-feira, 1 de abril de 2019

Laços

Nosso encontro não foi, por mim, planejado. Você, de alguma forma, ainda que não quisesse me ver como seu objetivo principal assim o idealizou e realizou. 

Não planejava te tocar, nem sequer me esforcei em te olhar nos olhos. Mas você abriu os braços, me convidando a encontrar neles um afago. Abracei e, quando me apertou, eu fechei os olhos. Estava feito!

Aquilo que há muito começava a se acalmar dentro de mim, aquilo que começava a se depositar no fundo do meu peito, e a ser encoberto por uma camada fina de poeira, se remexeu, e se atiçou. Reacendeu o que há muito custou ser apagado. Reanimou-se o que, pensava, já havia começado a morrer.

Foi como se um fluxo intenso de energia começasse a fluir dentro de mim, como se tudo fosse violentamente agitado, algo como as águas revoltas de um oceano mortal. Seu toque, o cheiro do seu corpo penetrou e me enfeitiçou, reatando os laços que há muito havia cortado entre nós.  

Quando finalmente me soltou, poucos segundos se passaram até que me puxasse novamente, reafirmando assim o seu domínio sobre mim. 

Fui tolo em pensar que já havia vencido. Tolo em acreditar que não mais sofreria com seu poder anormal. Ainda me tem em sua mão, ainda me manipula como quer, ainda me faz sentir a dor que é a sua ausência em meu corpo. 

Quando se foi, um zumbido alto incomodava meus ouvidos, e quis tentar na tentativa de esquecer mais facilmente de nosso encontro, mas foi em vão. Ali, deitado, consciente de mim mesmo, eu percebi que você havia colocado novamente suas correntes em mim. Tentei evocar aquelas sensações que poderiam me fazer rejeitar a ideia de voltar a ser seu escravo mas, embora provoquem em mim intensas e destrutivas reações, foi tudo em vão. Seu olhar, seu toque, seu cheiro, ainda são as coisas mais poderosas e assustadoras que já conheci. 

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