segunda-feira, 29 de abril de 2019

Adormecendo

Desejei ardentemente me jogar na cama durante todo o fim de semana. Foram dias cansativos, e somados aos dias que não dormi direito por conta da Semana Santa calculo que em média não tenho uma boa noite de sono já há pelos menos dois anos. Meu corpo já se desligara do mundo ao meu redor no momento em que entrei no quarto. Não demorei mais do que duas músicas para adormecer, e esse tempo curto foi o suficiente para marcar em mim profundas impressões...

Foram apenas alguns poucos minutos, em que fechei os olhos e finalmente pude relaxar os meus músculos. Minha mente ficou pesada, e logo se anuviou... Senti um calor agradável surgir em minha nuca, como se um raio concentrado de sol ali tocasse, e comecei a sentir minha cabeça mais e mais dentro do travesseiro.

Ela desceu lentamente, fazendo os músculos dos ombros também caírem, a tensão se foi e senti um suspiro de alívio. Acho que gemi um pouco alto demais, mas já há dias que sustentava uma armadura que já não aguentava mais. 

Minha coluna demorou um pouco mais, e aos poucos a curva cansada foi se desfazendo, como se as vértebras fossem se transformando devagarinho numa espuma macia. Já não doía, apenas se alegrava em finalmente romper os nós que se formaram dos assentos duros e incômodos dos últimos dia. Suspirei mais uma vez, e agora foi um gemido longo. O ar de minha boca escapou com vontade. 

Meus braços já não conseguiam mais se erguer, desistiram de tentar lutar e agora se entregaram ao descanso merecido. Diziam "deixai agora vossos servos irem em paz" e se foram, desmanchando-se como poeira ao vento. Apenas as extremidades de meus dedos continuaram acordadas. A essa altura minhas pernas já haviam se desprendido do corpo e agora flutuavam livremente, sorrindo como crianças, num oceano de nuvens.  

Uma névoa densa e branca foi surgindo ao meu redor. Me tirou primeiramente o sentido da audição, não conseguia mais ouvir nada ao meu redor. Depois se foram também o paladar, levando consigo o gosto fresco de menta do gel dental e o olfato, fazendo se perder em meio a névoa o cheiro doce de amêndoas e açúcar que passei em mim. Meu tato desapareceu lentamente, conforme via a névoa tomar também consigo minha visão, que se fechava finalmente no meu tão merecido descanso. 

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