terça-feira, 2 de abril de 2019

Voltando do abismo

Toda vez que eu estou próximo do abismo, você me puxa de volta.

Eu caminho, cegamente, rumo a queda livre sem retorno. O vento forte que sopra me avisa, como um alerta, que pessoas que amam sua vida não deveriam estar ali. E o que eu faço ali? O que eu procuro encontrar num lugar onde, costumeiramente, as pessoas vão para dar cabo ao seu sofrimento? 

O gosto salgado das ondas do mar quebrando-se violentamente contra as pedras, que permanecem imóveis pelos milênios apenas desgastando-se lentamente, acaricia meu rosto. É o beijo apaixonado da morte que, na frialdade daquela brisa, me abraça como um velho amante.

O canto doce da esperança de um pós-vida melhor me faz esquecer que esperança e desesperança são apenas duas faces de uma mesma moeda. Uma espada de dois fios que corta, não importando o lado que rasgue visceralmente a carne do inimigo. 

Continuo caminhando, embriagado pela contemplação de um mundo onde não sinta a dor que me entorpece os sentidos. Mas quando aproximo meus pés da borda daquele penhasco, fazendo deslizar algumas pedras que se perdem na imensidão cinza de Okeanos, sua mão me segura. Firme. Forte Decidida. "Não faça isso!" Toda vez que eu estou próximo do abismo, você me puxa de volta. 

É sempre assim. E, quando volto meu olhar para ver quem é o meu herói, ele desaparece. Você desaparece. Só vejo a sombra de um alguém indo embora, e quando corro para ver quem é, a imagem desaparece entre meus dedos como o vapor da água. Nem sequer consigo ouvir seus passos, abafados pelo som das ondas que gritam por não devorarem meu corpo.

Quem é você, que ainda me mantém aqui? Quem é você que ainda me quer vivo? O que quer de minha vida? Me deixe partir, se não vai fazer o caminho de volta ao meu lado... Me deixe ao menos ver seu rosto...

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