sexta-feira, 5 de abril de 2019

Das lutas cotidianas e das estirpes

O dia logo deve amanhecer, e há pouco eu me recolhi ao meu quarto, depois de uma longa noite de comemorações. O estranho de, agora, ter muitos amigos é que ainda me sinto solitário quando não tinha ninguém. Claro, guardadas as devidas proporções. 

O que quero dizer é que continuo me sentindo só mesmo quando rodeado de pessoas. Mesmo quando o riso e a cantoria abafam os soluços do meu peito eu me sinto só. É como se as vozes se perdessem, meu foco sumisse, e eu ficasse absorto em meu próprio mundo, com todo aquele vozerio fazendo as vezes de fundo. 

Mesmo com muitos ao meu lado sinto como se nunca estivesse na mesma página que outra pessoa, que sou o trecho complexo e aparentemente desinteressante de uma obra absurdamente longa que ninguém se dispõe a ler. Estranho saber que mesmo no meio de tantos ainda sou um desconhecido para todos. 

Não cobro, no entanto, que fiquem ou que me entendam. Conheço-me bem o suficiente para saber que não sou mais do que uma confusa combinação de elementos dispares, algo que em nada atrai os olhares que buscam a facilidade de almas menos complexas. As pessoas chegam, observam, tomam notas e se vão. 

Talvez seja isso que signifique dizer que "pois as estirpes condenadas a cem anos de solidão não terão uma segunda chance sobre a terra." É sentir-se sozinho na multidão. É surpreender-se cotidianamente com a crescente carência, que luta ferozmente com a racionalidade. É notar o quanto me deixo levar pelas ilusões, e o quanto me deixo machucar pelas desilusões. É trocar os meus próprios curativos, por não ser forte o suficiente para suportar as ferroadas que me são dadas, é chorar sobre minhas feridas que nunca se fecham, senão que são constantemente abertas por novas espadas, que transpassam-me a carne com seu aço frio. É buscar todo dia o amor e o carinho nos braços daqueles que não me podem dá-los. 

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