segunda-feira, 15 de abril de 2019

Do meu eu?

Crise poética: não ser entendido ou não entender-se? 

Não ser entendido é dor comum, vejo ao redor e ninguém entende uma palavra, estão todos fechados demais em suas próprias convicções pequeninas. Mentes pequenas demais para ver o mundo complexo como é. 

Mas e eu, o faço? Minhas convicções não são tão pequenas quanto as dos outros, apenas diferentes? 

Sequer entendo a gênese de minhas intenções e opiniões. Não sei de onde vieram todas essas coisas. O que é tudo isto que não faz parte de mim mas está em mim de tal modo que não consigo mais distinguir o que sou e o que não sou? 

Não entendo o que quero. Onde quero chegar? Qual a imagem do mundo que eu quero ver? 

Me sinto fraco, patético, mas olho ao meu redor e só consigo achar que os humanos merecem a dor e a miséria em que vivem, por serem fechados demais em si mesmos. E essa ensimesmação os torna bestiais, como os animais brutos, que não sem sequer falam por não conseguirem externalizar nada que se passa dentro deles. 

Me sinto então obrigado a me fechar também. E a ir para tão fundo dentro de mim que sequer consigo ver a luz do mundo, senão que apenas vislumbro os feixes de meu próprio coração. Não há espaço, senão em meu peito, para pensar ou refletir as coisas altas. Não há alma amiga para ouvir os meus devaneios mais pessoais. 

Então, eu não entendo, qual é o mundo que eu quero criar? Qual a imagem do mundo que eu quero ver?

Quero destruir esse mundo completamente, quero as pessoas vivendo servilmente abaixo de minhas palavras e decretos, e quero a minha mão pesada por sobre as suas cabeças, guiando seus passos como a animais que, presos, não vão aonde querem ir, senão que apenas obedecem as ordens que lhes são dadas.  Queria um mundo silencioso sob meu julgo. Queria um mundo ondes as pessoas não mãos fizessem um poeta sentir-se incompreendido. Mas como fazer existir esse mundo se nem mesmo o poeta entende-se? 

Meu eu lírico confunde-se com sua própria poesia, e se vê perdido num mar de cores que se misturam numa miríade profusa de possibilidades. 

Também quero um mundo livre, onde não existam amarras. Mas essa imagem derrete-se assim que penso o quanto os homens vem se destruindo com o péssimo uso dessa mesma liberdade. O homem não nasceu para ser livre, não o sabe ser, e desde sempre vem sendo destruído pelas desastrosas consequências da própria liberdade. Se o mundo que quero não é sob o peso de minhas correntes e nem livre de todas amarras o que é então? 

O que eu quero ainda não sei o que é. Apenas busco, e mim e fora, algo que possa completar o buraco que há em meu peito desde meu primeiro pensamento. 

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