domingo, 25 de agosto de 2019

No vale da sombra


Dia de batalha, onde uma guerra imensa é travada, dentro do meu coração. De um lado, a responsabilidade de cumprir com aqueles compromissos feitos posteriormente. De outro, a necessidade de me fechar e de ficar sozinho, trancado no fundo de meu quarto e de só sair de lá em um ou dois meses. 

É uma crise que se anuncia.  Há o medo da verdade, o medo de ficar só, a racionalidade já se foi, me deu adeus pela janela do cruzeiro pois dará a volta ao mundo em oitenta dias. Posso sentir, o gosto de sangue em minha boca, a aura. Minha única arma é apelar para os remédios que prometem me manter de pé quando o ímpeto de meu ser é deitar no chão e chorar. 

A novidade? Não há liberdade nesta existência. Sou sempre cativo, de minhas crises ou das drogas que me mantenham longe delas. Não seria isto também claramente uma crise? Mas eu preciso de um remédio que me deixe ruim, mas de pé, do que ficar em casa cortando os pulsos e chorando por imaginar uma porção de cenários dantescos e apocalípticos para meu futuro.

Entrar em uma crise forte é dez vezes mais rápido do que sair dela. E eu não quero isso, não agora, na verdade não quero nunca mais. Eu não quero aquela ansiedade, aquele medo que aos poucos vai transformando meu coração num recanto de pavor, como se a qualquer momento eu fosse explodir completamente. Eu não quero aquela dor esmagadora sob meu peito novamente. 

Me resta deitar e fechar os olhos, enquanto espero os benzodiazepínicos fazerem algum efeito, para que, de alguma maneira, eu ainda consiga ser eu mesmo a noite, para que eu consiga ser eu mesmo quando precisar passar pelo vale da sombra da morte eu talvez consiga sobreviver.

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