terça-feira, 13 de agosto de 2019

Nuvens cinzas

O céu está cinza, desde cedo está cinza, triste, vazio. Não mais julgo como sendo reflexo de meu estado. Não, o que eu percebo agora é que eu reflito o que se passa no céu, de alguma maneira. Desde cedo estou cinza, triste e vazio.

Ontem foi um dia difícil. Atordoado pela nuvem de incertezas que paira sobre minha cabeça quanto ao meu futuro eu me vi em desespero, o que me levou à uma crise horrível. Uma das piores de que consigo me lembrar. Meu coração doía, meus pulmões queimavam, eu chorava compulsivamente de horror pela perspectiva da solidão. Acabei no hospital, algumas horas depois, sendo medicado com um antipsicótico. 

Voltei para casa e deitei, na esperança de que, quando acordasse, tudo estivesse melhor e o medo tivesse passado. Mas não passou, continuava ali, a espreita, e continua aqui, sobre minha cabeça como as nuvens cinzas que prenunciam as chuvas.  

Desde então tenho notado o céu cinza, triste. Desde então as piadas não tem mais tanta graça. Desde então eu espero pelo momento em que chegue a hora do juízo final, aquela palavra que será minha sentença de morte, a declaração de que minha existência até aqui não teve nenhum propósito, e como isso seja finalmente libertado para o abraço da morte. 

Uma frente fria vem se aproximando da região. E com ela o fantasma que me ronda se aproxima cada vez mais de meu coração. Ele espera pelo momento certo de me matar. Ele espera para, na próxima crise, dar cabo de minha vida de uma vez por todas. Ele espera para, no fim desta semana, acabar com o que restou daquele que há muito vem torturando com requintes de crueldade. 

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